Recensão por: Tiago Carvalho.

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Carmo, Renato Miguel e Nuno Nunes (2012), “Class and Social Capital in Europe: a transnational analysis of the European Social Survey”, European Societies.

Há uma relação estreita entre classe social e confiança, mas nem todos os elementos do capital social tendem a ser apropriados na base da posição de classe.

Apesar das críticas de que o conceito é alvo, as classes sociais continuam a ser cruciais no entendimento e enquadramento de múltiplas dimensões das sociedades modernas, entre os quais se destaca o capital social, que é fundamental na identificação da forma como se constituem as relações sociais nas sociedades modernas.
Tendo em conta estas questões, neste artigo, os autores pretendem compreender de que forma as classes sociais influenciam a produção e reprodução de capital social. Assim, a partir de uma análise estrutural procuram debruçar-se sobre os fatores sociais que influem nas diversas dimensões do capital social no âmbito de uma análise transnacional europeia. Utilizam para isso dados do European Social Survey de 2008 que compreende 26 países e cerca de 50 mil indivíduos. Pela multiplicidade de variáveis que incorpora este programa de pesquisa constitui, no que a estas questões diz respeito, uma ferramenta valida e útil no aprofundamento empírico da relação entre classes sociais e capital social. A análise é feita, portanto, numa perspetiva transnacional que foca o conjunto dos países europeus e através da qual se identifica as classes sociais na Europa medeiam a distribuição do capital social entre as diferentes posições sociais.
O capital social é conceptualizado por referência a um entrecruzamento teórico que procura suportar as dimensões de análise delineadas e que se divide em 3 dimensões: redes sociais, relações de sociabilidade e confiança. Sugerem que teoricamente a relação entre classes sociais e capital social se justifica porque o capital social é baseado na persistência temporal da rede de relações que partilha certas normas e valores e que acaba por produzir diferentes formas de apropriação e exclusão, no que ao fechamento social diz respeito, tendo em conta recursos económicos, culturais e sociais.
A análise integrada efetuada mostra que se por um lado os empresários e dirigentes, profissionais liberais e profissionais técnicos de enquadramento detêm níveis de confiança e práticas de sociabilidade elevadas, por outro, em relação a estes os empregados executantes e operários apresentam níveis mais baixos nestas dimensões. Esta divisão é, porém, esbatida em termos de pertença associativa, sendo que a distância entre profissionais técnicos de enquadramento e empresários e dirigentes face às restantes classes sociais diminui. Uma análise multivariada esclarece os perfis dominantes desta relação e que se definem tendo em conta uma dimensão posicional e outra societal: a primeira refere-se à distribuição de recursos e aos níveis de confiança, enquanto a segunda enquadra as práticas de sociabilidade e pertença associativa. Estas permitem uma leitura mais aprofundada dos diferentes tipos de capital social revelando a natureza divisível e flexível da sua posse. Os 3 perfis tipo são a (1) apropriação de recursos, (2) a privação parcial de recursos e, por fim um (3) padrão relacional mais intenso, em que se destaca uma sociabilidade informal mais alta, uma participação média nas atividades sociais e uma não pertença a associações. Denota-se, assim, uma conexão entre as diversas posições de classe e a forma como o capital social se encontra distribuído entre as diversas posições sociais. Contudo, assinalam que um maior nível de recursos não significa necessariamente um padrão relacional mais intenso.
Os autores concluem, portanto, que é possível identificar um espaço estratificado onde as diversas componentes do capital social tendem a ser apropriadas com base na posição de classe. Há uma relação estreita entre classe social e confiança, mas nem todos os elementos do capital social tendem a ser apropriados na base da posição de classe. Apesar do fechamento social expresso na dualidade entre um largo estrato de dominados com baixos níveis de confiança e os dominantes, um grupo mais pequeno e com níveis de confiança elevados, há, contudo, elementos do capital social que escapam a esta dualidade, nomeadamente as de natureza mais societal e que se expressam em sociabilidades mais intensas.