Subutilização da força de trabalho: o perfil social
As mulheres, os mais jovens e os menos escolarizados são os grupos mais afetados por este tipo de situações.
A taxa de subutilização da força de trabalho é um indicador estatístico através do qual é possível complementar e aprofundar a análise do desemprego, alargando o alcance da mesma a situações próximas deste fenómeno (ver metainformação do INE, metainformação do Eurostat – Indicators to supplement the unemployment rate – e apresentação da ILO). Tal como se evidenciou aqui, a taxa de subutilização do trabalho é, em Portugal e em vários países europeus, significativamente superior à taxa de desemprego.
Do ponto de vista da composição social da população que se enquadra nesta categoria, constata-se que as mulheres são mais abrangidas por este fenómeno do que os homens, mantendo-se a diferença entre homens e mulheres relativamente regular ao longo do período em análise.
Embora o INE não disponibilize informação suficientemente detalhada em relação à incidência da subutilização laboral por grupo etário, é possível constatar que os mais novos (15-24 anos) apresentam para este indicador valores muito acima do apurado para a média da população portuguesa e para os outros dois grupos analisados na Figura 2. Veja-se que, entre 2012 e 2014, mais de metade da população com idade entre 15 e os 24 anos encontrava-se numa situação de subutilização laboral, tendo a grandeza desse indicador diminuído de forma regular nos anos seguintes, à exceção do ano de 2020, em que volta a aumentar.
A Figura 3 demonstra que existe uma desigualdade significativa no que diz respeito à incidência da subutilização do trabalho de acordo com o nível de escolaridade. De facto, em 2020 a taxa de subutilização da população que não foi além do ensino básico é 2,9 p.p. mais elevada do que a dos que concluíram o ensino superior e a população que não foi além do ensino secundário ou pós-secundário é 4,1 p.p. superior à dos que concluíram o ensino superior.
A taxa de subutilização da população que não foi além do ensino secundário ou pós-secundário aproxima-se mais da verificada entre os que não foram além do básico do que da população com formação superior. De facto, para o ano de 2020, as taxas de subutilização da população que não foi além do ensino básico é de cerca de 14,4% e da população que não foi além do ensino secundário e pós-secundário é de 15,6%, enquanto que a taxa de subutilização da população com ensino superior é de 11,5%.
De notar ainda o ano de 2020 é o único dentro do período analisado em que a taxa de subutilização da população com ensino secundário e pós-secundário é superior à da população com o ensino básico.
As duas tabelas seguintes contêm informação relativa à composição dos indicadores suplementares de desemprego, de acordo com a variável sexo e nível de escolaridade. Os indicadores suplementares de desemprego usados são: o subemprego dos trabalhadores a tempo parcial; os inativos indisponíveis e os inativos desencorajados, isto é, os inativos disponíveis para trabalhar mas que não procuram trabalho.
Entre os três indicadores suplementares de desemprego, aquele em que existe uma maior desigualdade entre homens e mulheres é, destacadamente, o subemprego. Em quase todos os países o subemprego feminino é mais elevado do que o masculino. Os países que apresentam um maior desnível entre a percentagem de mulheres e de homens no total dessa população são a Áustria e a Suiça, nos quais existe uma diferença de cerca de 43 p.p. entre homens e mulheres. Em Portugal, essa diferença é de cerca de 28 p.p., abaixo do valor apurado para os países da UE27 (32 p.p.).
Em relação aos inativos indisponíveis, existe um desnível de 9 p.p. entre o valor apurado para as mulheres e para os homens no quadro dos países da UE27. Dos três indicadores analisados, este é o que apresenta assimetrias de género mais esbatidas.
No que diz respeito às desigualdades entre homens e mulheres no universo dos inativos desencorajados (indivíduos que deixam de procurar trabalho, embora estejam disponíveis para trabalhar), as desigualdades mais expressivas entre mulheres e homens tendem a verificar-se em países no sul da Europa, nomeadamente na Grécia, em Espanha e na Croácia, sendo também de assinalar a Suiça e a Roménia.
Quadro 1 - Composição dos indicadores suplementares de desemprego, UE28, pop. 15-74 anos, por sexo (2020) (%)
wdt_ID | Países | Subemprego | Subemprego | Indisponíveis | Indisponíveis | Desencorajados | Desencorajados |
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1 | Homens | Mulheres | Homens | Mulheres | Homens | Mulheres | |
2 | UE27 | 34 | 66 | 46 | 54 | 45 | 55 |
3 | Alemanha | 30 | 70 | 52 | 48 | 47 | 53 |
4 | Áustria | 29 | 71 | 49 | 51 | 50 | 50 |
5 | Bélgica | 31 | 69 | 40 | 60 | 52 | 48 |
6 | Bulgária | 49 | 51 | 54 | 46 | 52 | 48 |
7 | Chipre | 43 | 57 | 31 | 69 | 47 | 53 |
8 | Croácia | 42 | 58 | 48 | 52 | 37 | 63 |
9 | Dinamarca | 37 | 63 | 45 | 55 | 53 | 47 |
10 | Eslováquia | 46 | 54 | 43 | 57 | 46 | 54 |
Países | Subemprego | Subemprego | Indisponíveis | Indisponíveis | Desencorajados | Desencorajados |
Fonte: Employment and unemployment statistics – Labour Force Survey (Eurostat)
O Quadro 2 apresenta informação para a composição escolar dos subempregados e dos desencorajados. Introduziram-se também dados relativos à composição escolar do total da população de cada país (com idade entre os 15-74 anos) com o intuito de controlar a sua amplitude nos dois indicadores suplementares de desemprego.
A composição escolar do grupo dos trabalhadores a tempo parcial subempregados é próxima da verificada em relação ao total da população de cada país. Há, no entanto, países em que essa relação é desproporcionada. Na Eslováquia, por exemplo, a percentagem desse grupo de trabalhadores com escolaridade básica é 24 p.p. mais elevada do que o nível de escolaridade apurado para o total da população do país. Ou seja, as baixas qualificações escolares são aí especialmente penalizadoras.
No universo da população desencorajada o efeito da escolaridade é mais forte. Veja-se que a percentagem de desencorajados com o ensino básico no conjunto da UE27 é cerca de 42%, 15 p.p. superior ao nível de escolaridade apurado. De notar que Portugal apresenta cerca de 51% da população desencorajada com o ensino básico, apenas ultrapassado pela Suécia, Malta, Bulgária, Noruega e igualado pela Espanha. Se a comparação tiver como referência a população com o ensino superior, conclui-se que a percentagem de desencorajados com esse perfil formativo na UE27 representa cerca de 16%. O título académico parece assumir-se, portanto, como um factor que mitiga significativamente as situações de desencorajamento laboral.
Quadro 2 - Composição de dois indicadores suplementares de desemprego, UE28, pop. 15-74 anos, por nível de escolaridade (2020) (%)
wdt_ID | Países | Subemprego | Subemprego | Subemprego | Desencorajados | Desencorajados | Desencorajados | Total da pop. (15-64 anos) | Total da pop. (15-64 anos) | Total da pop. (15-64 anos) |
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1 | Básico | Sec e PS | Sup | Básico | Sec e PS | Sup | Básico | Sec e PS | Sup | |
2 | UE27 | 27 | 45 | 28 | 42 | 42 | 16 | 27 | 45 | 28 |
3 | Alemanha | 19 | 58 | 23 | 37 | 44 | 19 | 20 | 53 | 27 |
4 | Áustria | 15 | 50 | 36 | 26 | 50 | 24 | 20 | 50 | 30 |
5 | Bélgica | 19 | 41 | 40 | 41 | 36 | 23 | 27 | 37 | 36 |
6 | Bulgária | - | - | - | 52 | 41 | 8 | 22 | 53 | 25 |
7 | Chipre | 18 | 37 | 45 | 16 | 45 | 40 | 24 | 38 | 38 |
8 | Croácia | 11 | 63 | 26 | 20 | 65 | 15 | 20 | 58 | 22 |
9 | Dinamarca | 26 | 44 | 30 | 49 | 32 | 19 | 27 | 41 | 33 |
10 | Eslováquia | 38 | 52 | 10 | 23 | 63 | 14 | 14 | 64 | 23 |
Países | Subemprego | Subemprego | Subemprego | Desencorajados | Desencorajados | Desencorajados | Total da pop. (15-64 anos) | Total da pop. (15-64 anos) | Total da pop. (15-64 anos) |
Fonte: Employment and unemployment statistics e Education and training statistics – Labour Force Survey (Eurostat)
Atualizado por Inês TavaresVer dados Excel