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Taxas de privação material e social, material e material severa

A taxa de privação material (TPM) baseia-se num conjunto de nove itens representativos das necessidades económicas e de bens duráveis das famílias, considerando-se em privação material todos os indivíduos em que não existe acesso a pelo menos 3 de 9 itens. Consultar os itens no glossário referente à taxa de privação material.

Os indivíduos em situações de privação material e social (TPMS) têm condições de vida limitadas por falta de recursos em pelo menos 5 dos 13 itens de privação possíveis de consultar no glossário referente à taxa de privação material e social.

A privação material e social severa (TPMSe) descreve a população que vive em situação de carência de, pelo menos, 7 de 13 itens de privação material e social ao nível do agregado doméstico e ao nível dos indivíduos.

 

Analisando os países da EU-27 em 2024, vemos que Portugal se encontra numa situação mais favorável face à média da OCDE nas três taxas de privação analisadas (Quadro 1). Ainda assim, Portugal obtêm piores resultados nestes indicadores do que a maioria dos países europeus, juntando-se a grande parte dos países do Leste e Sul da Europa. Pelo contrário, é nos países nórdicos que estas taxas são mais baixas, com destaque para a Islândia, a Suécia e a Noruega, mas também em alguns países da Europa Central, como a Eslovénia, o Luxemburgo e a Suíça.

No que toca à privação material, 7,1% dos indivíduos em Portugal não tinham acesso a pelo menos 3 dos 9 itens considerados essenciais para suprir necessidades económicas e de bens duráveis: uma diferença de 1,1 p.p. face à média da EU.

A situação piora a nível europeu e nacional quando se considera a privação social e material da população: aqui, Portugal quase iguala a média europeia, com 11% da sua população a ser incapaz de aceder a pelo menos 5 de 13 itens de privação (-0,8 p.p.).

Uma proporção inferior de pessoas vive em situação de privação material e social severa, i.e., sem acesso a pelo menos 7 dos 13 itens possíveis de privação. Em Portugal, esta taxa atinge os 4,3%, -2,1 p.p. face à média da UE27.

 

Quadro 1 - Taxas de privação material, privação social e material e privação social e material severa, países da UE-27 (2024), %

wdt_ID País Privação material Privação social e material Privação social e material severa
1 Islândia ** 0,7 2,0 0,8
2 Suíça * 1,8 5,5 2,4
3 Noruega 1,8 6,7 2,8
4 Luxemburgo 2,1 5,6 2,3
5 Suécia 2,3 6,6 3,0
6 Eslovénia 2,6 4,5 1,8
7 Países Baixos 2,6 6,1 3,1
8 Finlândia 3,3 7,6 3,7
9 Chipre 3,4 9,0 2,5
10 Irlanda 3,5 9,7 4,5
11 Dinamarca 3,9 8,1 4,0
12 Áustria 4,1 7,5 3,7
13 Polónia 4,2 5,5 2,3
14 Chéquia 4,5 6,1 2,6
15 Malta 5,1 9,0 4,0
16 Estónia 5,2 8,2 3,1
17 Bélgica 6,2 11,2 6,1
18 Croácia 6,4 5,2 2,0
19 França 6,6 12,9 6,6
20 Portugal 7,1 11,0 4,3
21 Itália 8,1 8,5 4,6
22 Alemanha 8,2 11,4 6,2
23 UE27 8,2 11,8 6,4
24 Eslováquia 8,7 12,7 7,6
25 Letónia 9,7 10,9 5,3
26 Espanha 9,7 16,0 8,3
27 Hungria 13,0 16,3 9,3
28 Lituânia 13,2 12,9 6,1
29 Grécia 17,6 29,1 14,0
30 Roménia 23,2 26,5 17,2
31 Bulgária 25,4 27,1 16,6
País Privação material Privação social e material Privação social e material severa

Legenda: * – dados de 2023; ** – dados de 2020
Fonte: Eurostat – Income and living conditions

 

A figura 1 mostra a evolução das três taxas de privação, em Portugal e na EU, desde 2015. No geral, Portugal tem vindo a melhorar a sua situação de modo mais expressivo do que a média dos países europeus. A taxa de privação material reduziu em metade desde o início do período analisado (de 15% para 7,1%), ao passo que na UE a redução foi mais tímida (de 12% para 8,2%). Também a taxa de privação social e material diminuiu para metade em Portugal (de 22,2% para 11%), ao passo que a taxa de privação material e social severa reduziu em mais de metade (de 10,9% para 4,3%). Na UE, as reduções foram, respetivamente, de 5,4 p.p. e de 2,9 p.p.

Estas tendências não foram lineares, ao longo do período analisado. Entre 2015 e 2018, o país encontrava-se numa posição desfavorável, com taxas de privação acima da média. Desde 2018, estas taxas dão mostras de melhoria substancial, ao que acresce o piorar concomitante da situação da globalidade dos países europeus. O período pós-pandémico contribuiu para um momentâneo aumento das taxas de privação em Portugal, que foi apesar disso rapidamente revertido, ao passo que, na Europa, a tendência de aumento das taxas de privação iniciou-se antes da pandemia e apenas no último ano analisado dá mostras de abrandamento.

 

 

Privação material

O Quadro 2 permite analisar a posição dos países europeus no que toca à proporção de indivíduos que não se encontravam em situação de privação material – i.e., que tinham acesso a todos os 9 itens considerados representativos das necessidades económicas e bens duráveis das famílias –, de acordo com a dimensão de privação a que se referem, de entre as três consideradas: económicas, de habitação e de ambiente.

No geral, é nos itens de privação económica que a maioria dos países europeus apresenta os valores mais preocupantes, com menos de 2/3 da população a reportar ausência de privação (apenas 58,5% têm acesso a todos os itens, na média da UE). Apenas nos Países Baixos, na Suíça, no Luxemburgo e em Malta se regista maior privação ao nível das condições ambientais. Por outro lado, é na dimensão da habitação que os europeus sentem menos privação material: 81,8% têm acesso a todos os itens, na média da UE.

Portugal apresenta uma situação desfavorável face à média da UE27 nas três dimensões de privação material. Em 2023, apenas 54,4% da população não tinha dificuldades em aceder aos itens de privação económica (-4,1 p.p. face à EU, sendo o 9.º país em pior situação). A distância aumenta no domínio da habitação, com apenas 66,9% da população portuguesa a ser capaz de aceder a todos os itens (-14,9 p.p. face à EU, sendo o 2.º país em pior situação – apenas atrás do Chipre). Também na privação ambiental, Portugal apresenta um mau resultado global: 63% das pessoas têm acesso aos itens considerados essenciais (-12,1 p.p. face à média europeia, sendo o 4.º país com piores resultados nesta dimensão, atrás da Malta, Grécia e Países Baixos).

O quadro permite observar desigualdades importantes entre países no topo e na base da privação material, em função das dimensões consideradas. O Luxemburgo, os Países Baixos e a Suíça, por exemplo, encontram-se no pódio dos países em que menos pessoas sofrem privação económica, mas ficam abaixo da média da UE27 no que toca à privação ambiental. Já a Eslováquia e a Croácia lideram a tabela no que toca à falta de privação habitacional, ao passo que obtêm resultados abaixo da média na privação económica.

 

Quadro 2 - População que tem acesso a todos os itens de privação material, por dimensão, países da UE27 (2023), %

wdt_ID Países Económica Habitação Ambiente
1 Países Baixos 77,4 82,8 60,8
2 Suíça * 76,8 82,1 74,2
3 Luxemburgo 74,8 79,3 64,3
4 Chéquia 73,1 89,6 78,7
5 Noruega 72,7 91,1 77,2
6 Suécia 72,7 91,0 80,8
7 Islândia * 71,6 81,4 81,1
8 Dinamarca 71,5 83,6 78,1
9 Bélgica 71,0 80,7 71,6
10 Eslovénia 70,0 79,1 73,3
11 Áustria 69,6 84,4 73,8
12 Finlândia 66,8 90,9 67,5
13 Polónia 63,7 91,5 86,6
14 Malta 61,7 84,7 53,2
15 Irlanda 60,8 75,5 100,0
16 Alemanha 60,7 88,6 81,0
17 França 59,5 72,5 65,4
18 UE27 58,5 81,8 75,1
19 Eslováquia 57,5 92,5 88,7
20 Itália 56,9 80,6 82,1
21 Estónia 54,9 87,7 82,9
22 Chipre 54,8 66,4 73,3
23 Portugal 54,4 66,9 63,0
24 Croácia 53,5 92,1 90,4
25 Hungria 52,9 81,2 78,3
26 Espanha 50,8 72,4 66,6
27 Lituânia 47,1 83,1 81,2
28 Letónia 45,7 75,4 75,6
29 Bulgária 38,9 84,2 77,6
30 Roménia 35,0 79,1 73,0
31 Grécia 33,4 82,1 57,4
Países Económica Habitação Ambiente

Legenda: * – dados de 2020
Fonte: Eurostat – Income and living conditions

 

Analisando a evolução deste indicador em Portugal face à EU desde 2007, a figura 2 mostra que a proporção de pessoas com acesso a todos os itens de privação material aumentou na dimensão económica (+22,3 p.p.) e ambiental (+3,8 p.p.), mas diminuiu na dimensão habitacional (-1,3 p.p.). Face à EU, esta evolução foi mais expressiva em Portugal na dimensão económica (na EU apenas aumentaram 7,7 p.p.), mas menos intensa na dimensão ambiental (com um aumento de 11,2 p.p. na UE) e em contratendência na dimensão habitacional (na EU, a proporção de pessoas que conseguiam aceder a todos os itens aumentou 6,7 p.p.).

Esta evolução faz com que, em 2024, Portugal se encontre numa situação muito próxima à da média dos países europeus no que toca à ausência de privação material de tipo económico (54,4% face a 58,5%, respetivamente). Na dimensão ambiental, em 2023 Portugal situa-se ao mesmo nível da EU no início do período analisado, com 63% das pessoas a terem acesso a todos os itens considerados; regista-se, contudo, um aumento da desigualdade face à média europeia, que era de -4,7 p.p. e passa para -12,1 p.p. Por fim, na dimensão do acesso a itens habitacionais, a desigualdade também aumenta face à EU, passando de -6,9 p.p. para -14,9 p.p.

Olhando para a cronologia da evolução destes indicadores, é notório que a proporção de pessoas com acesso a todos os itens na dimensão económica começa a aumentar constantemente desde 2013, acompanhando a tendência europeia, decrescendo em 2022 para voltar a recuperar em 2024.

Já no que toca à dimensão habitacional, ao passo que na EU esta proporção aumenta tímida, mas constantemente durante uma década (2007 e 2017), em Portugal, o período de crise económica e austeridade que marcou o período de 2010 a 2014 fez-se acompanhar de uma redução acentuada do acesso da população aos itens de privação material no domínio da habitação. A partir de 2015, o país inicia uma tendência de tímido aumento, que é, no entanto, atenuada a partir de 2020; de facto, entre 2020 e 2023, esta proporção decresce 4 p.p.

 

Nota: sem dados para 2021, 2022 e 2024

 

A proporção de pessoas com acesso a todos os itens de privação material na dimensão económica é superior entre a população que não se encontra em risco de pobreza, em Portugal e na EU (figura 3). Portugal tem vindo a aproximar-se da média da EU de forma constante, exceto durante o período pandémico, onde a distância voltou a aumentar. Ao longo do período analisado (2015 a 2024), a desigualdade entre as pessoas que estão e as que não estão em risco de pobreza é superior na EU do que em Portugal (em 2024, 36,8 p.p. e 33,1 p.p., respetivamente).

 

 

No que toca à privação material no domínio da habitação, Portugal apresenta em 2023 uma menor proporção de pessoas do que a média da UE com acesso a todos os itens considerados essenciais, entre a população em risco de pobreza (respetivamente, 57,1% e 72,2%) e, em menor grau, sem risco de pobreza (respetivamente, 68,9% e 83,7%) (figura 4). A distância face à UE tem vindo a crescer em particular entre a população em risco de pobreza, desde 2020. Destaca-se ainda que, em Portugal, ao contrário do que acontece na UE, as pessoas sem risco de pobreza têm vindo a experienciar mais privação material na habitação desde 2019, seguindo a tendência da população em risco de pobreza.

 

 

A figura 5 mostra que não se registam diferenças significativas entre homens e mulheres no que toca à privação material no domínio da habitação, na UE ou em Portugal, e que ambos os sexos evoluem tendencialmente em sintonia.

 

 

Ainda na dimensão da habitação, vemos que o risco de privação material varia consideravelmente em função do grupo etário (figura 6). Enquanto na EU são os mais novos quem consistentemente tem menos acesso aos itens considerados essenciais (80%, face a 84,7% entre os mais velhos em 2023), em Portugal, eram os mais velhos quem se encontrava numa pior situação de privação até 2020. No entanto, em 2023 a pior situação de privação é sofrida pela população com menos de 18 anos: apenas 63,5% têm acesso aos itens básicos de habitação, o valor mais baixo desde o início do período analisado entre todos os escalões etários.

 

 

Taxa de privação social e material

 

Em 2024, as mulheres sofrem maiores taxas de privação social e material que os homens, em Portugal (12,4%, +2,9 p.p.) e na EU (12,6%, +1,1 p.p.) (figura 7). A desigualdade de género mantém-se ao longo do período analisado, sobretudo em Portugal e apesar da tendência geral de descida. Destaca-se que o período pós-pandémico parece ter invertido a tendência de descida verificada desde 2015, tendo sido as mulheres portuguesas particularmente afetadas com um aumento súbito da taxa de privação social e material em 2021.

 

 

A figura 8 mostra que o grupo etário com mais de 65 anos em Portugal apresenta as maiores taxas de privação social e material, em 2024 (14,1%, +3,9 p.p. face à UE). Nos restantes escalões etários, Portugal apresenta taxas mais baixas face aos seus congéneres europeus: entre a população com menos de 18 anos, 11,1% sofrem privação social e material (-2,6 p.p. face à UE) e, entre a população com 18-64 anos, apenas 9,8% sofrem este tipo de privação (-2,4 p.p. face à UE).

 

 

As desigualdades no que toca ao nível de escolaridade mais elevado atingido são persistentes (figura 9). Tanto em Portugal como na UE, a população que concluiu no máximo o ensino básico (até ISCED 2) apresenta as taxas de privação social e material mais elevadas; pelo contrário, quanto maior o nível de escolaridade, menor a taxa de privação social e material. Em todos os graus de ensino, esta taxa de privação é inferior em Portugal e superior na UE.

Em Portugal, a descida tem sido consistente entre os dois níveis de escolaridade mais baixos, exceto no imediato pós-pandemia (2021). Na UE, a tendência de descida é menos pronunciada desde 2018, sobretudo entre quem tem ensino superior.

 

 

Em 2024, a taxa de privação social e material é superior na UE do que em Portugal em todos os quintis de rendimento (exceto no 2.º) (figura 10). A distância que separa o 1.º do 5.º quintil é de 26,8 p.p. em Portugal e de 29,5 p.p. na UE. É a partir de 2021 que a UE começa a superar Portugal em todos os quintis de rendimento – sendo que, no caso do quintil 5 (aquele que concentra os rendimentos mais elevados), a situação mais desfavorável dos europeus já se fazia sentir desde 2016. A aproximação dos valores de Portugal aos da UE dá-se em virtude da diminuição mais expressiva da taxa de privação material em Portugal, onde o agravamento pós-pandémico foi momentâneo, tendo rapidamente voltado à tendência anterior de descida, ao contrário do que aconteceu na Europa, que apenas em 2024 dá mostras de recuperação.

 

 

No que toca à condição perante o emprego, os desempregados apresentam as maiores taxas de privação social e material em Portugal e na UE (respetivamente, 31,4% e 38,6% em 2024) (figura 11). É entre a população empregada que essa taxa é menor (respetivamente, 6,8% e 8,2%). Os reformados e as pessoas não-empregadas apresentam taxas de privação social e material superiores em Portugal, face às da UE (respetivamente, +3,7 p.p. e +0,5 p.p.).

 

 

Tanto em Portugal como na UE, os agregados que experienciam maiores taxas de privação social e material são os isolados com filhos dependentes (respetivamente, 21,2% e 24%) (figura 12). No geral, os casais experienciam menores taxas de privação social e material o que os agregados compostos por isolados (respetivamente, 11,6% em Portugal e 8,5% na UE, representando -5,5 p.p. e -7,5 p.p.).

Em Portugal, os agregados sem filhos dependentes sofrem maiores taxas de privação do que os seus congéneres na UE (12%, +0,9 p.p.), bem como os isolados (17,1%, +1,1 p.p.) e os casais no geral (11,6%, +3,1 p.p.).

Tanto em Portugal como na UE, ser um casal com 2 filhos dependentes reduz a taxa de privação social e material face a ter apenas 1 filho (respetivamente, -2,5 p.p. e –0,9 p.p.), bem como face a ter 3 ou mais filhos (respetivamente, -8,5 p.p. e -8 p.p.).

 

 

Elaborado por Inês Tavares. Atualizado por Adriana AlbuquerqueVer Excel