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Se em 1990 o principal factor de risco mundial era a má-nutrição, actualmente é a pressão arterial elevada.

A reputada revista The Lancet publicou recentemente o estudo Global Burden of Disease Study 2010 – a primeira pesquisa compreensiva sobre doença, lesão e risco desde o ano de 1990 ao ano 2010.

Neste âmbito, foram realizados análises de diferentes áreas da Epidemiologia e da Saúde Pública por investigadores de várias disciplinas, sendo possível sistematizar algumas conclusões transversais que vêm actualizar as prioridades de intervenção política na saúde. A primeira diz respeito à evolução positiva de muitos dos indicadores da saúde populacional desde os anos 90 à actualidade. Assiste-se um significativo aumento da longevidade de homens e mulheres, e ao decréscimo da mortalidade infantil e maternal. A nível mundial, a esperança média de vida ao nascimento aumentou cerca de 3 a 4 anos por década entre os anos de 1970 e 2010: aumentou de 56,4 (55,5-57,2) para 67,5 (66,9-68,1) no caso dos homens, e de 61,2 (60,2-62,0) para 73,3 (72,8-73,8) no caso das mulheres. Durante esse mesmo período a mortalidade de crianças com 5 anos ou menos diminui em quase 60%: de  16,4 milhões (16,1-16,) em 1970 para 6,8 milhões (6,6-7,1) em 2010. 

Registam-se também claras transformações das principais causas de morte e dos factores de risco ao longo destas décadas: se em 1990 o principal factor de risco mundial seria a má-nutrição, actualmente é a pressão arterial elevada; face ao progresso registado no controlo das doenças contagiosas, a prevalência de doenças não transmissíveis tem vindo a aumentar; associado ao aumento da longevidade das populações, assiste-se ao aumento da importância de condições incapacitantes (como os distúrbios mentais, doenças crónicas respiratórios, anemias, ou a perda de visão e de audição). O estudo torna também evidente que as transformações observadas não ocorrem da mesma forma em todos as regiões do mundo. África continua a ser uma região em que “a mortalidade maternal e infantil, bem como um vasto leque de doenças contagiosas e passíveis de serem prevenidas continuam a ser preocupações urgentes” (p. 2053).

Os resultados do estudo, e de algumas ferramentas interactivas para os analisar, são disponibilizados gratuitamente no site da revista para “aprofundar a compreensão das tendências na doença, lesão, e risco” e “estimular debates de nível global, regional e nacional” sobre as suas implicações para políticas e práticas” (p. 2054).

Os autores propõem ainda o uso do conhecimento reunido para o desenvolvimento de metas futuras para o desenvolvimento sustentável e para reivindicar a defensa da cobertura universal dos serviços de saúde, para uma terceira grande transição na saúde global – depois da transição demográfica (redução de mortes prematuras resultante de medidas de saúde pública) e da transição epidemiológica (associado ao controlo de importantes doenças contagiosas).  Este estudo  foi lançado em 2007 por um consórcio de sete parceiros – Universidades de Harvard, Johns Hopkins, Queesland, Tokyo, o Imperial College London, o Institute for Health Metrics and Evaluation (Universidade de Washington) e a Organização Mundial da Saúde (WHO) – e é o resultado colaboração de 486 cientistas, de 302 instituições de 50 países.

Referências

Horton, Richard (2012), “GBD 2010: understanding disease, injury, and risk”, Lancet [Comment], Vol 380, Issue  9859, 2053-2054.

Murray, Chriss (December 2012), Chris Murray highlights key findings from the seven research articles in the GBD 2010 Study [Audio].Audio disponível em http://www.thelancet.com/themed/global-burden-of-disease, consultado a 10 de Janeiro 2013.

Wang, Haidong;  Dwyer-Lindgren, Laura;   Lofgren, Katherine T;  Rajaratnam, Julie Knoll;  Marcus, Jacob R; Levin-Rector, Alison;  Levitz, Carly E;  Lopez, Alan D; Murray, Christopher JL (2012), “Age-specific and sex-specific mortality in 187 countries, 1970—2010: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010”,  Lancet, Vol 380 Issue  9859, 2071- 2094.