Cerca de 14% da populacão portuguesa encontrava-se, em 2020, numa situação de subutilização laboral.

A taxa de desemprego é o indicador tipicamente usado para analisar o aproveitamento da mão-de-obra disponível no mercado de trabalho. A emergência cada vez mais significativa de situações limítrofes ao desemprego, associadas aos tempos de trabalho involuntariamente limitados e a formas de inatividade não relacionadas, por exemplo, com a aposentação ou a incapacidade prolongada, veio problematizar esse facto. Neste âmbito, a Organização Internacional do Trabalho propôs que para além do fenómeno do desemprego fosse também medida a subutilização do trabalho, indicador em relação ao qual várias instituições têm disponibilizado informação. Do ponto de vista metodológico, enquanto a taxa de desemprego resulta da divisão dos desempregados pela população ativa (pop. desempregada + pop. empregada), a lógica que preside ao cálculo da taxa de subutilização do trabalho é diferente. Desde logo porque o seu numerador resulta da soma da taxa de desemprego e de outras três variáveis (o subemprego do trabalho a tempo parcial; os inativos à procura de emprego mas não disponíveis; e os desencorajados, isto é, os inativos disponíveis para trabalhar mas que não procuram trabalho). Ou seja, tem em consideração situações estatisticamente classificadas como sendo de emprego, desemprego e inatividade. Também a lógica de formação do denominador deste indicador tem particularidades: resulta da soma da população ativa e da força de trabalho potencial (os dois tipos de inatividade mencionados), equivalendo à força de trabalho alargada (extended labour force) (ver metainformação do INE,  metainformação do Eurostat – Indicators to supplement the unemployment rate – e apresentação da ILO).

A Figura 1 permite analisar a evolução da taxa anual de desemprego e a de subutilização entre 2011 e 2020, em Portugal. De 2011 a 2013 verificou-se um aumento significativo da taxa de desemprego (na ordem dos 3,5 p.p.), tendência ainda mais expressiva no que à taxa de subutilização da força de trabalho diz respeito (aumento de cerca de 5,8 p.p.). Desde 2013 até 2019 ambas as taxas têm progressivamente diminuído, tendo aumentado em 2020. Em 2019, a taxa de subutilização regista os valores mais baixos do período em análise, tendo em 2016 alcançado valores semelhantes a 2011. O mesmo sucede com a taxa de desemprego, sendo que esta já em 2015 alcançara os valores de 2011.

É interessante constatar que desde 2013 o rácio entre a taxa de desemprego e  taxa de subutilização do trabalho diminuiu um pouco. Naquele ano a taxa de desemprego representava cerca de 65% da taxa de subutilização, em 2020 esse valor é de 50%. Ou seja, a taxa de desemprego diminuiu de forma mais expressiva desde o ano que marcou o pico da crise económica e financeira do que o indicador que tem em linha de conta situações de desemprego real e de subemprego.

 

 

A Figura 2 apresenta informação relativa à taxa de subutilização do trabalho nos países europeus, em 2020. Os países que apresentam uma taxa de subutilização do trabalho mais elevada provêm do sul da Europa. Portugal é o décimo segundo país que apresenta um valor mais dilatado.

 

 

A Figura 3 diz respeito ao peso relativo que cada um dos três indicadores suplementares à taxa de desemprego – indicadores esses que, com a taxa de desemprego, formam o conceito de subutilização da força de trabalho. Em todos os países as situações mais relevantes são o subemprego dos trabalhadores a tempo parcial  e a inatividade desencorajada (que diz respeito, no essencial, a desempregados que deixaram de acreditar que conseguiam encontrar emprego), uma vez que os inativos indisponíveis têm uma expressão bastante menor, excepção feita ao verificado na Lituânia, no Luxemburgo ou na Dinamarca. Em Portugal o grupo dos inativos desencorajados são os que assumem maior percentagem, com mais 19,2 pontos percentuais que o subemprego.

 

 

Atualizado por Inês Tavares

Ver dados Excel