Pelo menos desde 2002 que Portugal se tem aproximado da média da UE-27 quanto à percentagem de famílias com acesso à Internet, representando 90,6% da população em 2024. Contudo, ainda se revelam grandes desigualdades dentro do próprio território nacional.

 

O quadro 1 mostra a evolução no nível de acesso à Internet na União Europeia ao longo da última década (2015 – 2024). Entre os 27 países, aquele onde mais se notou uma diferença neste espaço de tempo foi a Bulgária, com uma amplitude de 33% e um crescimento médio anual de 4,1 p.p, seguindo-se da Roménia (26,9%, crescimento médio anual de 3 p.p.), Lituânia (22,1%, crescimento médio anual de 2,1 p.p.) e Portugal (20,4%, crescimento médio anual de 2,5 p.p.). Estes países encontravam-se muito distantes da média da UE-27 em 2015 (ex: em Portugal, 70,2% dos domicílios tinham acesso à Internet, enquanto na UE a média era de 81,4%). Contudo, atualmente, todos rondam mais ou menos o mesmo valor, aproximando-se da média da UE-27 (94,1%), havendo então uma diminuição da desigualdade no acesso à Internet. Isto pode estar relacionado com a prevalência de diversos fatores socioeconómicos dos países em questão que influenciam o acesso à Internet analisados abaixo.

 

Quadro 1. Nível de acesso à internet por % de domicílos na UE-27 (2015 - 2024)

wdt_ID País 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
1 Países Baixos 96,0 96,7 98,2 98,0 98,4 97,0 98,6 98,3 98,9 99,0
2 Luxemburgo 96,8 97,0 97,2 93,0 95,2 93,6 99,2 97,6 99,1 98,8
3 Finlândia 89,9 92,0 94,4 94,3 94,4 96,0 96,6 97,6 96,8 97,4
4 Dinamarca 91,7 94,3 97,0 92,7 95,4 95,3 96,1 95,2 96,1 96,9
5 Espanha 78,8 81,9 83,4 86,4 91,4 95,4 95,9 96,1 96,5 96,8
6 Polónia 75,8 80,5 81,9 84,2 86,8 90,4 92,4 93,3 93,3 95,9
7 Malta 81,0 81,4 84,8 84,1 86,1 90,4 90,5 93,4 93,5 95,6
8 Suécia 91,0 93,8 94,7 93,4 96,1 93,9 93,2 94,3 94,9 95,4
9 Áustria 82,4 85,1 88,8 88,8 89,9 90,4 95,0 93,2 95,0 95,0
10 Chipre 71,2 74,4 79,4 86,2 89,6 92,8 93,4 94,0 92,3 94,9
País 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024

Legenda: n/d – dados indisponíveis

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

No quadro 2 é possível verificar que os países que estavam mais distantes da média da UE-27 em 2015 são, por regra, aqueles onde existe uma maior desigualdade no acesso à Internet entre quartis de rendimento, destacando-se a Bulgária (amplitude interquartil de 62,6 p.p., com apenas 37% da população no 1º quartil com acesso à Internet e 99,7% da população no 4º quartil). Portugal é o 6.º país mais desigual da UE27, com uma amplitude interquartil de 35,3 p.p., com apenas 63,3% da população no 1º quartil de rendimento possuindo acesso à Internet, face a 98,7% da população no 4º quartil.

 

Quadro 2 - Domicílios com acesso à internet, por quartil de rendimento, nos países da UE-27 (2020) (%)

wdt_ID País 1.º quartil 2.º quartil 3.º quartil 4.º quartil
1 Países Baixos 92,9 96,8 98,4 98,9
2 Finlândia 90,3 97,9 99,6 99,5
3 Dinamarca 90,0 92,4 98,1 99,8
4 Luxemburgo 88,8 94,0 99,3 99,4
5 Alemanha 87,6 96,5 99,2 99,9
6 Espanha 85,9 95,3 99,0 99,8
7 Suécia 83,9 98,0 97,7 99,0
8 Áustria 83,2 85,3 91,8 97,4
9 Eslováquia 81,5 80,1 89,7 91,9
10 Bélgica 80,5 78,7 95,5 98,8
País 1.º quartil 2.º quartil 3.º quartil 4.º quartil

Legenda: *Dados referentes a 2019

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

Olhando para a figura 1, é possível concluir que o aumento do acesso à Internet deve-se, sobretudo, à diminuição das desigualdades no acesso, visto que os quartis 3 e 4, desde 2016, têm níveis de acesso muito semelhantes. Dentro do 4º quartil, 95,7% da população portuguesa tinha acesso à Internet; em 2020 era 98,7%, uma diferença de apenas 3 p.p.), não se observando a mesma evolução nos quartis de rendimento 1 e 2. No quartil 1, 45,6% da população tinha acesso à Internet em 2016, passando a 63,3% em 2020, marcando uma diferença de 17,7 p.p..

 

 

Quanto à tipologia de habitação (quadro 3), Portugal é o 2.º país mais desigual, havendo uma amplitude de 10,7 p.p. na percentagem de domicílios com acesso à Internet entre as áreas rurais (83,8%) e urbanas (94,5%).

 

Quadro 3 - Domicílios rurais, suburbanos e urbanos com acesso à internet, nos países da UE-27 (2024) (%)

wdt_ID País Rural Suburbano Urbano
1 Luxemburgo 98,8 98,4 99,8
2 Países Baixos 98,6 99,1 99,1
3 Dinamarca 97,0 97,7 96,2
4 Malta 96,7 96,1 94,9
5 Finlândia 96,4 96,7 98,3
6 Polónia 95,3 95,6 96,6
7 Suécia 95,3 95,5 95,4
8 Espanha 94,3 96,6 97,7
9 Áustria 94,0 95,1 95,8
10 França 93,9 94,2 95,1
País Rural Suburbano Urbano

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

Olhando para a figura 2, é possível tirar conclusões diferentes a este tópico quanto à desigualdade de rendimentos em Portugal. O aumento de acesso à Internet foi uniforme nas áreas rurais, suburbanas e urbanas, havendo uma evolução notável no que toca às áreas urbanas: desde 2016, 80,7% da população tinha acesso à Internet, comparado com 60,5% na mesma época nas áreas rurais. Atualmente 83,8% da população nas áreas rurais tem acesso à Internet (aumento de 23,3 p.p.), comparado com 89,5% da população em áreas suburbanas e 94,5% das populações urbanas (aumento de 13,8 p.p.). A desigualdade entre as áreas rurais e urbanas reduziu em cerca de metade, sendo de aproximadamente 20 p.p. em 2016 e passando para 10,7 p.p. em 2024). Pode ainda concluir-se que as zonas rurais estão a acelerar mais o processo de acesso à Internet do que as urbanas.

 

 

Por último, para se compreender melhor as desigualdades geográficas, é pertinente observar o quadro 4, que apresenta a percentagem de domicílios em Portugal com acesso à Internet entre os anos 2007 e 2024 por NUTS II. Destaca-se o valor mais elevado na A. M. Lisboa, onde, em 2024, 95,4% da população tem acesso à Internet. Do lado oposto situa-se o Alentejo, onde apenas 86,8% da população tem acesso à Internet, existindo uma amplitude de 8,6 p.p. entre as duas regiões, revelando assim uma significativa desigualdade geográfica. Desde o início do período analisado, as regiões onde mais aumentou o acesso à Internet foram a R.A. Açores (53,8 p.p.) e o Norte (56,2 p.p.), as quais, por sua vez, apresentavam os valores mais baixos em 2007, havendo já em 2008 um aumento notável no Norte de 12,8 p.p. em relação aos valores do ano anterior. A área com o menor crescimento foi o Centro (46,3 p.p por ano), seguido do Algarve (48,7 p.p.) e a A. M. Lisboa (49 p.p.). Refletem-se, assim, as tendências do resto da Europa não só em relação às áreas com maior conectividade à Internet desde cedo, mas também em relação ao crescimento nas áreas rurais e urbanas.

 

Quadro 4 - Domicílios com acesso à internet em Portugal, por NUTS II (2007 - 2024) (%)

wdt_ID Ano Portugal Norte Algarve Centro A. M. Lisboa Alentejo R. A. Açores R. A. Madeira
1 2007 39,6 32,7 42,0 41,8 46,4 37,1 39,9 40,9
2 2008 46,0 45,5 46,3 39,6 54,1 38,0 41,1 44,7
3 2009 47,9 47,3 50,6 41,4 55,4 38,5 46,7 49,7
4 2010 53,7 51,3 55,5 49,4 62,1 43,7 54,1 54,0
5 2011 58,0 55,1 58,3 52,5 68,0 48,8 59,6 55,0
6 2012 61,0 58,0 60,7 55,2 71,9 48,8 64,1 60,5
7 2014 64,9 63,2 65,1 59,2 73,1 54,4 70,2 67,1
8 2016 74,1 71,5 72,8 69,6 82,4 63,1 79,9 78,8
9 2018 78,4 76,7 76,5 75,1 87,7 70,6 86,5 82,7
10 2020 84,5 81,8 85,8 80,4 90,9 80,6 87,8 88,0
Ano Portugal Norte Algarve Centro A. M. Lisboa Alentejo R. A. Açores R. A. Madeira

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

Elaborado por Sérgio de Andrade

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