Desigualdade tem vindo a recuar entre 2005 e 2020, em Portugal, e o país melhorou a sua posição neste ranking no contexto europeu. Contudo, a pandemia Covid-19 teve um impacto imediato no aumento das desigualdades de rendimento em Portugal.

 

O rácio S80/S20 “é um indicador de desigualdade na distribuição do rendimento, definido como o rácio entre a proporção do rendimento total recebido pelos 20% da população com maiores rendimentos e a parte do rendimento auferido pelos 20% de menores rendimentos”.[1]

O valor deste indicador em Portugal diminuiu entre 2005 e 2010, mas, a partir de 2011, assistiu-se a um aumento da desigualdade de rendimento (Figura 1). A crise económica e financeira foi, neste sentido, marcada por algum aprofundamento das assimetrias de rendimento entre os 20% da parte superior da distribuição e os 20% da base. Embora esta medida de desigualdade não traduza um aumento muito expressivo das assimetrias entre a base e o topo, importa ter em atenção que foram as populações da parte inferior da distribuição as mais penalizadas pela crise.

Tal como demonstram Rodrigues e colegas (2016: 27), enquanto o rendimento médio disponível diminuiu 12% entre 2009 e 2014, essa redução foi de 25% no caso dos 10% mais pobres e de 16% no segundo decil (P10-P20). Na verdade, quando este tipo de análise tem como referência grupos mais restritos da população, constata-se que a desigualdade entre o topo e a base aumentou significativamente nesse período: o rácio entre o rendimento dos 5% com maiores rendimentos e o dos 5% da base da distribuição aumentou 23% entre 2009 e 2014 (de 14,7 para 18,7 – com um pico de 19,7 em 2013); no caso do rácio entre o decil do topo e o da base, o nível de desigualdade aumentou nesses anos 15% (idem: 36).

Enquanto nos anos de 2011 e 2014 o rácio aumentou, a partir de 2015 até 2020 este valor diminuiu, tendo voltado a aumentar em 0,7 p.p. em 2021. No ano mais recente (2022) o valor diminuiu 0,6 p.p. face ao ano anterior, voltando (pela diferença de 0,1 p.p.) aos valores pré-pandemia SARS-COV 19.

 

 

Portugal é o 9.º país dos considerados no Quadro 1 (UE27) que apresenta um nível de desigualdade entre o rendimento da parte superior e inferior da distribuição mais elevado. Portugal é o quarto país da tabela que apresenta um nível mais elevado de concentração do rendimento auferido nos 20% da parte superior da distribuição (S80), encontrando-se acima da média europeia. No entanto, Portugal está em 19.º lugar no indicador S20, tendo uma proporção dos rendimentos auferidos pela base abaixo da média europeia.

 

Quadro 1 - Rácio S80/S20 e proporção dos rendimentos auferidos pelos 20% da parte superior (S80) e da base (S20) da distribuição, UE27 (2022/2023)

wdt_ID Países S80/S20 S80 S20
1 Bulgária 6,6 44,0 6,6
2 Itália* 5,6 36,9 9,1
3 Roménia* 6,0 38,4 6,4
4 Letónia 6,2 40,7 6,6
5 Lituânia* 6,4 43,4 6,8
6 Malta* 4,8 39,7 8,4
7 França* 4,6 38,4 8,4
8 Espanha 5,5 38,7 7,0
9 UE27* 4,7 37,8 8,2
10 Estónia 5,4 38,9 7,2
11 Grécia* 5,2 38,9 7,4
12 Croácia* 4,6 36,5 8,0
13 Portugal* 5,1 40,5 7,9
14 Chipre* 4,3 38,5 9,0
15 Suécia 4,7 37,3 7,9
16 Alemanha 4,4 38,1 8,6
17 Áustria* 4,3 36,3 8,5
18 Irlanda* 4,1 36,8 9,2
19 Dinamarca 4,2 37,2 9,0
20 Finlândia 3,8 36,3 9,6
21 Luxemburgo* 4,5 37,1 8,2
22 Hungria* 4,0 36,8 9,2
23 Chéquia 3,4 34,7 10,1
24 Países Baixos* 3,9 35,3 8,9
25 Polónia* 3,9 35,6 9,1
26 Eslováquia 3,6 31,1 8,6
27 Bélgica 3,4 34,1 10,1
28 Eslovénia 3,3 33,4 10,0
Países S80/S20 S80 S20

Notas: 1) Países ordenados por ordem decrescente em função do rácio S80/20. 2) Os países assinalados com * têm dados do ano de 2022, o seu ano mais recente no indicador S80/S20.

Fonte: Income and living conditions statistics – EU-SILC (Eurostat)

 

A Figura 2 demonstra que a proporção do rendimento disponível auferido pelos 20% da parte superior da distribuição em Portugal diminuiu entre 2005 e 2010 cerca de 4,2 p.p., voltando a aumentar no período entre 2011 e 2016, tendo diminuído apenas 0,7 p.p. e 0,4 p.p. em 2013 e 2015, respetivamente. Entre 2017 e 2020 o valor diminuiu 1,5 p.p., contudo o ano de 2021 representou um aumento de 1,1 p.p. em apenas um ano, sendo o valor mais alto de diferença positiva (de crescimento anual) desde que há registo, nesta fonte. Em relação à média europeia, Portugal encontra-se sempre acima desta, tendo vindo a aproximar-se desde 2013, até 2020, quando a proporção de rendimentos auferidos pelo quintil mais elevado da distribuição volta a aumentar de forma mais intensa do que na UE27.

 

 

Nota:

[1] Os valores apresentados dizem respeito à distribuição do rendimento disponível (depois do pagamento de impostos e das contribuições para a segurança social, e de recebidas as transferências sociais) por adulto equivalente. O rendimento equivalente é “obtido pela divisão do rendimento de cada agregado pela sua dimensão em termos de ‘adultos equivalentes’, utilizando a escala de equivalência modificada da OCDE.” O conceito de “adulto equivalente” é uma unidade de medida da dimensão dos agregados que resulta da aplicação da escala modificada da OCDE”. Esta escala “atribui um peso de 1 ao primeiro adulto de um agregado; 0,5 aos restantes adultos e 0,3 a cada criança dentro do agregado. A utilização desta escala permite ter em conta as diferenças na dimensão e composição dos agregados” (INE, 2017).

 

Referências bibliográficas:

INE (2017), “Rendimento e condições de vida – O risco de pobreza reduziu-se para 18,3%”, INE.

Rodrigues, Carlos Farinha (coord.), Rita Figueiras, e Vítor Junqueira (2016), Desigualdade do Rendimento e Pobreza em Portugal, Lisboa, FFMS.

 

Atualizado por Diana Deodato

Elaborado por Inês Tavares

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