No que concerne à pobreza energética, Portugal continua a ser um dos países da UE27 com maiores dificuldades. Em 2020, cerca de 17,5% da população residente em Portugal refere não ter capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida, menos 1,4 p.p. face a 2019. Na UE27 a pobreza energética aumentou para 8,2%. 

A Figura 1 refere-se à população que reportou incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida por país da UE27 (mais o Reino Unido), em 2019 e 2020. Em situação de maior desvantagem, com mais de 25% da população sem capacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida, estão a Macedónia (33,1% em 2019, sem valores para 2020), Bulgária (30,1% em 2019 e 27,5% em 2020) e a Lituânia (26,7% em 2019, registando um valor inferior a 25% em 2020). De resto, é na Europa de Leste e também do Sul que a pobreza energética é mais frequente. Em posições mais vantajosas estão os países da Europa Central e do Norte. Entre estes, destacam-se a Suíça (0,3% em 2019 e 0,2% em 2020) e a Noruega (1% em 2019 e 0,8% em 2020) com as proporções mais baixas de população sem capacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida.

Importa ainda referir que a maioria dos países teve uma diminuição da população que reportou incapacidade financeira para meter a casa suficientemente aquecida. A Lituânia foi o país que registou a maior redução de pobreza energética (menos 3,6 p.p), seguido da Bulgária (menos 2,6 p.p.), entre 2019 e 2020. Na ordem da redução 2 p.p. estão ainda a Letónia e a Eslováquia. Portugal, Grécia e Hungria registaram uma diminuição de cerca de 1 p.p., alcançando os respetivos valores em 2020: 17,5%, 16,7% e 4,2%. Por último, destacam-se a Alemanha com a maior subida de da população a reportar esta dificuldade passando a 9% (mais 6,5 p.p. do que 2019). E também a Espanha com um aumento de 3,4 p.p., de 7,5% para 10,9%.

 

 

A Figura 2 permite analisar a evolução da população com incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida em quatro países da Europa do Sul e no conjunto de países da UE27, entre 2010 e 2019. Em 2010, Portugal era o país onde a pobreza energética era mais elevada (30,1%), seguindo-se a Grécia (15,4%), a Itália (11,6%) e a Espanha (7,5%). À exceção deste último, os restantes países estão em desvantagem relativamente à média da União Europeia entre 2010 e 2013. De 2014 até 2020 todos os países da Europa do Sul revelam uma pobreza energética superior à média da UE27.

Entre 2010 e 2020, verifica-se que Portugal foi o único país da Europa do Sul a registar uma melhoria na capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida (-12,6 pontos percentuais). Ainda assim, em 2019, Portugal é o o país da Europa do Sul com a maior proporção da população com incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida. Nos países em análise, a posição portuguesa é ultrapassada apenas pela grega, entre 2013 e 2018, onde se registou um agravamento na proporção da população com incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida, com uma distância entre os dois países que variou entre os 1,6 p.p. em 2013 e 6,6 p.p. em 2016.

 

 

 

A Figura 3 apresenta a incapacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida por composição do agregado familiar, em Portugal e na UE27, em 2019 e 2020. De um modo geral, observa-se que, independentemente da tipologia  do agregado, a população portuguesa está sempre em desvantagem comparativamente à média da UE27.

Em Portugal, 26,6% da população residente em agregados constituídos por um adulto não tem capacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida, valor superior ao da UE27 (mais 17,2 p.p.), em 2019. Este valor aumenta em 2020 cerca de 0,8 p.p. (27,4%), mas diminui a distância face à UE27 (16,6 p.p.). Em Portugal este é o agregado familiar em que se observa maior pobreza energética em ambos os anos em análise. Na UE27 o agregado familiar mais afetado é composto por um adulto com crianças dependentes (10,2% em 2019 e 13,6% em 2020).

Os agregados constituídos por dois adultos e duas crianças dependentes são aqueles onde a incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida é mais baixa (10,4% em 2019 e 6,5% em 2020). Este padrão observa-se também na UE28, ainda que com uma proporção menor (4,4% em 2019 e 5,6%).

Assim, em Portugal as situações de maior fragilidade correspondem a pessoas que vivem sós, a casais sem filhos e a famílias monoparentais: 1 adulto (26,6% em 2019 e 27,4% em 2020), 1 adulto com crianças dependentes (23,3% em 2019 e 17,9% em 2020), 2 adultos (20,8% em 2019 e 21% em 2020) e agregados sem crianças dependentes (21,8% em 2019 e 22,1% em 2020). No caso da U27 verifica-se que as famílias monoparentais são as que apresentam maior incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida (10,7% em 2019, tendo aumentado 3,4 p.p. em 2020). Também nos casos das famílias com 3 ou mais crianças dependentes se regista uma maior incapacidade na UE27 – 9,8% em 2020 (mais 1,8 p.p.)

Por fim, focando nos agregados com e sem crianças dependentes constata-se que na UE27 esta distinção é pouco relevante na incapacidade financeira para manter a casa aquecida (distância de 0,9 p.p. em 2019 e 0,6 p.p. em 2020 entre os dois tipos de agregados). Já no caso português denota-se uma maior proporção nos agregados sem crianças dependentes (cerca de 22% em ambos os anos) face aos que têm crianças dependentes (16,1% em 2019 e 12,7 p.p), uma diferença que aumentou em 2020, de 5,8 p.p. para 9,4 p.p. devido à diminuição no caso do agregado com crianças dependentes.

 

Elaborado por Ana Filipa Cândido e Alda Botelho Azevedo

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