No que concerne à pobreza energética, Portugal continua a ser um dos países da UE27 com maiores dificuldades. Em 2022, cerca de 17% da população residente em Portugal refere não ter capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida, menos 2 p.p. face a 2018. Na UE27 a pobreza energética aumentou de 7 para 9% entre 2018 e 2022.
A Figura 1 refere-se à população que reportou incapacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida por país da UE27 (mais o Reino Unido), em 2018, 2020 e 2022. Em 2022, em situação de maior desvantagem face à média europeia (9%), estão a Bulgária, Chipre, Grécia, Lituânia, Espanha, Portugal, Roménia e França. Com exceção dos últimos dois países referidos e de Espanha, os restantes registaram uma diminuição expressiva de pobreza energética entre os anos analisados, em contratendência face ao resto da UE.
Em posições mais vantajosas estão os países da Europa Central e do Norte. Entre estes, destacam-se a Suíça e a Noruega com as proporções mais baixas de população sem capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida, não chegando a 1 p.p.
De notar que quase todos os países cuja média de pobreza energética se situa abaixo da UE registaram, ainda assim, uma subida expressiva deste indicador, sobretudo desde 2020, com exceção da Hungria, Polónia e Eslovénia. Os aumentos mais expressivos registaram-se entre a população espanhola (de 9 para 17%) e romena (9 para 15%).
A Figura 2 permite analisar a evolução da população com incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida em quatro países da Europa do Sul e no conjunto de países da UE27, entre 2010 e 2022. Em 2010, Portugal era o país onde a pobreza energética era mais elevada (30,1%), seguindo-se a Grécia (15,4%), a Itália (11,6%) e a Espanha (7,5%). À exceção deste último, os restantes países estão em desvantagem relativamente à média da União Europeia entre 2010 e 2013. De 2014 até 2020 todos os países da Europa do Sul revelam uma pobreza energética superior à média da UE27, apesar de darem mostras de diminuição progressiva do indicador.
A partir de 2020, a tendência de melhoria das condições de aquecimento das casas entre a população dos países analisados parece sofrer uma inversão – particularmente intensa para Espanha, cuja taxa de pobreza energética aumenta 7 p.p.
Face ao início do período em análise, Portugal demonstra a melhoria mais expressiva entre os 4 países sul-europeus, passando de 30,1% para 17,1%, aproximando-se dos valores registados na Grécia e em Espanha.
A Figura 3 apresenta a incapacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida por composição do agregado familiar, em Portugal e na UE27, em 2019 e 2022. De um modo geral, observa-se que, independentemente da tipologia do agregado, a população portuguesa está sempre em desvantagem comparativamente à média da UE27, em termos absolutos, apesar de registar uma evolução contratendência de melhoria face à UE.
Em Portugal, 24% da população residente em agregados constituídos por um adulto não tem capacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida, valor superior ao da UE27 (11,7%), em 2019. Apesar disso, entre 2019 e 2022 diminui a distância face à UE2. Em Portugal, este é o agregado familiar em que se observa maior pobreza energética em ambos os anos em análise. Na UE27 o agregado familiar mais afetado é composto por um adulto com crianças dependentes (10,2% em 2019 e 15,9% em 2022).
Os agregados portugueses constituídos por dois adultos e duas crianças dependentes são aqueles onde a incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida é menor (10,4% em 2019 e 7,2% em 2022, aproximando-se recentemente da média da UE – 6,3%).
Assim, em Portugal as situações de maior fragilidade correspondem a pessoas que vivem sós, a casais sem filhos e a famílias monoparentais: 1 adulto (26,6% em 2019 e 24% em 2022), 1 adulto com crianças dependentes (23,3% em 2019 e 20,9% em 2022), 2 adultos (20,8% em 2019 e 20,4% em 2022) e agregados sem crianças dependentes (21,8% em 2019 e 22,2% em 2022).
No caso da U27, verifica-se que as famílias monoparentais são as que apresentam maior incapacidade financeira para manter a casa suficientemente aquecida (10,2% em 2019, tendo aumentado 1,3 p.p. em 2022). Também nos casos das famílias com 3 ou mais crianças dependentes se regista uma maior incapacidade na UE27 – 10,2% em 2022 (mais 2,2 p.p.)
Por fim, focando nos agregados com e sem crianças dependentes constata-se que na UE27 esta distinção é pouco relevante na incapacidade financeira para manter a casa aquecida. Já no caso português denota-se uma maior proporção nos agregados sem crianças dependentes (cerca de 22% em ambos os anos) face aos que têm crianças dependentes (16,1% em 2019 e 12,9% em 2022), uma diferença que aumentou em 2022, de 5,8 p.p. para 6,3 p.p.
Elaborado por Ana Filipa Cândido e Alda Botelho Azevedo. Atualizado por Adriana Albuquerque.