Em Portugal, em 2021, as mulheres portuguesas contam, em média, com menos 1,9 anos de vida saudável à nascença e menos 1 ano de vida saudável aos 65 anos do que os homens portugueses. Encontram-se, assim, em contratendência face à União Europeia, onde as mulheres podem esperar viver mais 1,1 ano de vida saudável à nascença do que os homens.

As mulheres portuguesas contam, em média, com 57,4 anos de vida saudável à nascença – menos 7,8 anos que a média da União Europeia. Para os homens portugueses, a média é de 59,3 anos – menos 3,8 anos que na UE.

Os anos de vida saudável representam, em Portugal, 75,6% da esperança de vida à nascença dos homens e apenas 68% das mulheres. Face à média da UE, tal representa uma diferença de, respetivamente, -6,1 p.p. e -9,4 p.p.

 

Os anos de vida saudável indicam o número de anos que os indivíduos podem esperar viver em boa saúde, ou seja, sem nenhum problema de saúde moderado ou severo (para mais informação – metadata Eurostat). A sua interpretação beneficia da relação com a esperança de vida porque quanto maior for a percentagem de anos de vida em boa saúde, melhores são as condições de saúde de uma população.

 

Analisando os dados relativos a Portugal no período 2011-2021 (Figura 1), em primeiro lugar, constata-se que o número de anos de vida saudável à nascença diminui ligeiramente, ao contrário do que se passa na média dos países europeus.

Constata-se, ainda, que em Portugal os homens beneficiam de uma vantagem relativamente às mulheres no que diz respeito aos anos de vida saudável, o que também contraria a tendência europeia de ligeira vantagem feminina. Em Portugal, a desvantagem feminina é maior entre 2014 e 2015 e menor nos primeiros três anos do período analisado, tendo desde 2016 estabilizado à volta dos 2 anos de vida.

Em 2011, as mulheres portuguesas à nascença poderiam esperar viver 58,6 anos de vida saudável e os homens 60,7 anos.  Já em 2021, as mulheres à nascença poderiam esperar viver 57,4 anos de vida saudável (-1,2 anos relativamente a 2011) e os homens 59,3 anos (-1,4 anos do que em 2011). No entanto, esta redução não ocorreu linearmente ao longo do período.

Em 2012 foi registado um aumento para ambos os sexos, seguindo-se uma diminuição significativa entre 2014 e 2015, ao mesmo tempo que, na UE, os anos de vida saudável à nascença aumentam. Desde 2016, o indicador dá mostras de recuperação para ambos os sexos, até 2020, altura em que inicia uma trajetória descendente – tal como acontece, de forma menos acentuada, na UE desde 2019.

 

 

A figura 2 mostra a evolução do número de anos de vida saudável aos 65 anos, que sintetiza as condições de saúde nas idades mais avançadas. Vemos que, na UE, as pessoas podem esperar ter, em média, cerca de 9 anos de vida saudável a partir dos 65 anos. Em Portugal, este número fica entre os 7 e 8 anos.

Entre 2011 e 2021, as principais tendências são semelhantes às anteriormente descritas (Figura 1). Contudo, é de salientar que a diferença entre os sexos no número de anos de vida saudável que os indivíduos podem esperar viver aos 65 anos é menor do que à nascença, tanto em Portugal como na UE. Ainda assim, em Portugal, esta diferença é mais expressiva e continua a penalizar as mulheres.

Adicionalmente, a diferença entre Portugal e a UE nos anos de vida saudável é menor aos 65 anos do que à nascença.

 

 

Na União Europeia, em 2021, os países onde a população beneficia de mais anos de vida saudável à nascença são a Suécia, Malta e Itália (Figura 3). No entanto, vemos que, à exceção da Suécia, estes países não são os que apresentam mais anos de vida saudável aos 65 anos – aqui, a Irlanda e a França ganham terreno (Figura 4).

No extremo oposto, com um menor número de anos de vida saudável, surgem a Estónia, Eslováquia e Letónia (Figura 3). Os últimos dois países e a Roménia registam também os valores mais baixos de expectativa de anos de vida saudável aos 65 anos.

Apenas em 11 dos 28 países em análise os homens têm um número de anos de vida saudável à nascença superior ao das mulheres, um deles Portugal. Este número diminui para 5 países no caso dos anos de vida saudável aos 65 anos (Figura 4). Em suma, de uma maneira geral, as mulheres podem esperar viver mais anos de vida saudável do que homens, à nascença mas sobretudo aos 65 anos. No entanto, em Portugal, o inverso acontece: os homens podem esperar viver mais anos de vida saudável do que as mulheres, independentemente da idade, sendo essa diferença bastante expressiva.

Por fim, em 2021, os países que apresentam as maiores diferenças entre sexos no número de anos de vida saudável à nascença são a Lituânia, Suíça e Polónia (aproximadamente de 4 anos), seguidos da Eslovénia, Bulgária, Dinamarca, Letónia e Estónia (em torno dos 3 anos) (Figura 3). Com as menores desigualdades de género, surgem a Finlândia, Áustria, Bélgica e Espanha, com valores inferiores a meio ano de vida saudável. Em suma, a desigualdade de género na esperança de vida saudável tende a ser superior nos países onde as pessoas contam com menos anos de vida saudável.

A figura 5 introduz a relação entre o número de anos de vida saudável que os indivíduos podem esperar viver e a esperança de vida, ambos à nascença, expressa em percentagem.  Assim, quanto maior a percentagem da esperança de vida vivida em boa saúde, melhores são as condições de saúde dos indivíduos.

Em 2021, os países com proporção de anos de vida saudável à nascença superior à média da UE para ambos os sexos (UE=79,5 anos), são 12, encabeçados pela Bulgária, Hungria e Malta, e seguidos da Chéquia, Alemanha, Irlanda, Grécia, França, Itália, Hungria, Polónia, Eslovénia e Suécia.

No que diz respeito à percentagem da esperança de vida vivida em boa saúde, Portugal revela uma posição intermédia no contexto da União Europeia em 2021 (Mulheres – 68% e Homens– 75,6%). De salientar o grande fosso de 11 anos entre as mulheres portuguesas e europeias, no que respeita à proporção de anos saudáveis que podem esperar ter.

De referir ainda que, apesar de as mulheres globalmente beneficiarem de mais de anos de vida saudável, quando relacionados com a esperança de vida à nascença, em todos os países da UE os homens podem esperar viver uma percentagem maior das suas vidas em boa saúde. Assim, comparativamente aos homens, as mulheres podem esperar viver mais anos, mas em piores condições de saúde.

Olhando para a mesma relação entre anos de vida saudável e esperança de vida, mas aos 65 anos (Figura 6), verifica-se que:

(1) os países com uma expectativa de anos de vida saudável mais próxima da esperança de vida aos 65 anos são a Suécia e a Dinamarca (com uma diferença inferior a 20% do total de anos vividos), sendo que no extremo oposto, estão a Eslováquia, Roménia, Croácia, Letónia e Grécia (com uma diferença superior a 40% do total de anos vividos); e que

(2) também nesta idade os homens podem esperar viver uma maior parte das suas vidas em boa saúde do que as mulheres, verificando-se a vantagem masculina de forma particularmente expressiva em Portugal e Espanha.

Elaborado por Ana Filipa Cândido e Alda Botelho Azevedo. Atualizado por Adriana Albuquerque.

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