Portugal era em 2021 o 2.º país com uma menor taxa de acesso a rede banda larga da UE-27, encontrando-se somente em 84% dos domicílios, destacando-se a sua falta nas áreas rurais e entre as famílias nos primeiros dois quartis de rendimento. Portugal apresenta alguns dos planos mais caros de rede banda larga (velocidade ≤ 999Mbps) da UE, o que, juntamente com a falta de infraestruturas e de investimento nas áreas rurais, podem ser os principais responsáveis pela situação atual.

 

O quadro 1 mostra o acesso à rede de banda larga nos diferentes países da UE-27 em 2021, onde é possível verificar que a maioria da população já possui acesso à internet de banda larga (a média europeia situa-se nos 90%), sendo os países onde o acesso é inferior os seguintes: Portugal (84,1%), Bulgária (83,5%) e Grécia (85%). Por outro lado, nos Países Baixos regista-se 98,6% da população com acesso a rede banda larga, sendo o valor mais elevado da UE-27, juntamente com o Luxemburgo (97,4%), Espanha (95,9%) e Finlândia (95,5%).

 

Quadro 1. Acesso a Rede de Banda Larga na UE-27 (2021) (%)

wdt_ID País %
1 Países Baixos 98,6
2 Luxemburgo 97,4
3 Espanha 95,9
4 Finlândia 95,5
5 Chipre 93,4
6 Irlanda 93,4
7 Eslovénia 93,0
8 Dinamarca 92,5
9 Bélgica 92,0
10 Polónia 91,7
País %

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

É possível encontrar um dos fatores que leva a esta desigualdade no Quadro 2, em particular a desigualdade rural. Podemos observar que em quase todos os países as áreas rurais são as que têm a menor proporção de acesso à rede de banda larga, destacando-se as seguintes exceções: Malta (áreas rurais são as que têm mais acesso à banda larga, com 96% dos domicílios tendo acesso a esta, comparativamente com 92,1% dos domicílios urbanos e 88,7% dos domicílios suburbanos); Suécia (áreas rurais têm uma diferença de 1 p.p. em relação às suburbanas,); Estónia  e Luxemburgo (mesma situação que a Suécia). A Bulgária (72,3%), Portugal (75%) e a Grécia (75,5%) são os países com menor acesso à rede banda larga nas áreas rurais, refletindo-se um padrão semelhante com as áreas suburbanas [Portugal (83,4%); Bulgária (84,4%) e Croácia (85,8%)] e urbanas [Grécia (88,7%), Portugal (88,8%) e Lituânia (89,6%)]. Os países com maior diferença de acesso entre as áreas urbanas e as áreas rurais, nomeadamente a Bulgária (18 p.p.), Portugal (14p.p.) e Grécia (13p.p.) são também os países que apresentam uma menor taxa de acesso a rede banda larga total. É possível concluir que um dos principais motivos de atraso no acesso a banda larga são as desigualdades territoriais dentro dos países, visto que em quase todos os países da UE27 a (quase) totalidade da população das cidades tem acesso, sendo nas áreas rurais que se observa maior falta de acesso.

 

Quadro 2 - Acesso a Rede Banda Larga por Tipologia Geográfica, Portugal e UE-27 (2021) (%)

wdt_ID País Urbano Suburbano Rural
1 Países Baixos 98,6 98,5 98,5
2 Luxemburgo 96,5 97,8 97,5
3 Malta 92,1 88,7 96,0
4 Finlândia 97,1 94,8 93,8
5 Espanha 96,7 95,6 93,6
6 Eslovénia 95,6 93,0 91,8
7 Suécia 91,5 90,3 91,2
8 Polónia 93,0 90,6 91,1
9 Chipre 93,1 96,7 90,9
10 Bélgica 90,8 93,2 90,2
País Urbano Suburbano Rural

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

Olhando para a figura 1 podemos ver que a divisão urbano/rural, em Portugal, está longe de desaparecer, visto que o crescimento anual médio do acesso a rede banda larga nas áreas urbanas e nas áreas rurais é igual (4 p.p.), mantendo-se então uma desigualdade constante desde o ano 2004: a diferença era de 16 p.p. em 2004, havendo 19,8% de domicílios com acesso a rede banda larga nas cidades e 4,3% nas áreas rurais; atualmente é de 14 p.p., com 88,8% nas áreas urbanas e 75% nas áreas rurais).

 

 

Na figura 2 podemos observar que, enquanto as diferenças territoriais dentro de Portugal se têm mantido constantes, as diferenças entre Portugal e o resto da UE27 duplicaram, sendo de 3 p.p. em 2004 (12,3% de domicílios com acesso em Portugal, sendo 14,9% a média europeia) e de 6 p.p. em 2021 (84,1% em Portugal vs. 90,2% na UE-27).

 

 

A desigualdade de rendimentos revela-se uma variável particularmente importante em Portugal. No Quadro 3, é possível observar que Portugal é o 7º país da UE27 que maior disparidade apresenta entre o 1º quartil de rendimento e o 4º, quando se trata de acesso a rede banda larga (60% no 1º quartil vs. 96,6% no 4º quartil, uma diferença de 37 p.p.).

 

Quadro 3 - Acesso a Rede de Banda Larga por Quartil de Rendimento, UE-27 (2021) (%)

wdt_ID País 1.º quartil 2.º quartil 3.º quartil 4.º quartil Variação 1Q-4Q
1 Países Baixos 92,9 96,8 98,4 98,9 -6,1
2 Luxemburgo 88,8 94,0 99,3 99,4 -10,5
3 Finlândia 87,9 97,2 98,9 99,2 -11,2
4 Eslováquia 80,2 78,5 88,7 91,5 -11,3
5 Dinamarca 86,0 88,7 96,1 97,6 -11,7
6 Alemanha 85,7 95,4 98,7 99,5 -13,8
7 Espanha 85,9 95,2 98,9 99,8 -13,9
8 Áustria 81,9 84,2 90,4 96,7 -14,7
9 Irlanda 79,6 93,9 90,6 97,7 -18,1
10 Bélgica 80,5 78,7 95,5 98,8 -18,3
País 1.º quartil 2.º quartil 3.º quartil 4.º quartil Variação 1Q-4Q

Legenda: * Dados de 2019; ** Dados de 2014; *** Dados de 2013

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

Vê-se, na figura 3, que esta diferença já foi muito maior, visto que em 2008 apenas 6,2% da população no 1º quartil de rendimento tinha acesso, comparado com 80,2% do 4º quartil, uma diferença de 74 p.p.

 

 

Uma explicação possível para este fenómeno é o preço elevado dos planos tarifários de rede banda larga em Portugal, quando ajustados para a paridade de poder de compra (€/PPS) (Quadro 4), sendo que Portugal é o 5º país da UE onde estes planos, com velocidades superiores a 1 Gbps (Gigabyte P/Segundo), são mais caros (45€), sendo o 2º país onde os planos com velocidades entre os 100 e 200 Mbps (Megabytes P/Segundo) são mais caros (32€) e o país onde os planos com a velocidade entre 200 e 999 Mbps são mais caros (39€).

 

Quadro 4. Preço (PPC/€) de Rede Banda Larga Fixa na UE-27 (2022) (€/PPS)

wdt_ID País 100-200Mbps 200-999 Mbps ≥1Gbps
1 Grécia 27,7 35,1 86,5
2 Bélgica 30,1 32,9 65,9
3 Áustria 30,0 30,0 62,7
4 Estónia 28,1 32,9 47,3
5 Portugal 31,5 38,5 45,4
6 Suécia 17,2 25,1 45,2
7 Malta 29,8 35,5 42,7
8 Irlanda 33,4 33,4 37,5
9 Países Baixos 30,1 33,4 36,6
10 Luxemburgo 15,5 32,3 36,5
País 100-200Mbps 200-999 Mbps ≥1Gbps

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

Por último, deve ser mencionada a velocidade da rede banda larga, onde, de acordo com o Quadro 5, Portugal se encontra acima da média europeia, fornecendo velocidades superiores a 1 Gbps em 89,5% dos tarifários de banda larga. Contudo, deve ser notado que os preços elevados dos planos de 1 Gbps podem ser um dos motivos para a desigualdade observada quando se tem em conta a variável “quartis de rendimento”,  ficando o primeiro quartil da população (25%) dependente dos 10% de planos que têm menos de 1 Gbps de velocidade, ou seja, os mais baratos.

 

Quadro 5. Velocidade da Rede Banda Larga na UE-27 (2023) (%)

wdt_ID País >30Mbps >100Mbps >1Gbps
1 Malta 100,0 100,0 100,0
2 Países Baixos 98,9 98,7 98,2
3 Bélgica 97,8 96,9 95,7
4 Roménia 95,8 95,7 95,0
5 Luxemburgo 97,3 95,4 94,7
6 Dinamarca 98,8 98,0 94,6
7 Espanha 96,2 95,7 92,6
8 Portugal 95,7 95,7 89,5
9 Suécia 90,8 89,0 88,5
10 Hungria 96,0 95,1 82,4
País >30Mbps >100Mbps >1Gbps

Fonte: Eurostat – Annual ICT Survey on Individuals and Households | Observatório das Desigualdades

 

Pode concluir-se, analisando a Figura 4, que Portugal foi um país onde rapidamente a velocidade das suas redes de banda larga aumentou (o que pode afetar a acessibilidade desta, visto haver cada vez menos planos mais lentos, ou seja, mais baratos), passando-se de 63,9% dos planos que têm mais de 30 Mbps para 83% em 6 anos (19p.p. entre 2013 e 2019), destacando-se o crescimento dos planos que têm mais de 100Mbps, que neste espaço de tempo viram um aumento de 35 p.p.. Ainda mais acentuado foi o crescimento durante a pandemia, chegando a 89,5% em 2023 a percentagem de planos de rede banda larga que têm velocidade superior a 1 Gbps, velocidade para a qual não existem registos antes de 2019 (onde eram 70,5% dos planos que tinham esta velocidade, havendo um crescimento de 19 p.p. nestes 5 anos).

 

 

Elaborado por Sérgio de Andrade

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