A frase “We can do better than this.”, abre aquele que é o relatório bianual do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para o anos de 2023-2024. Enquanto no período anterior (2021-2022) averiguou-se uma queda no valor global de IDH pela primeira vez desde que há registo, este novo período projeta que “todos os componentes do IDH global (…) irão exceder os seus valores anteriores a 2019[1]. Apesar disso, o valor global continuará abaixo da sua anterior tendência, mantendo divergências na recuperação dos valores entre países mais desenvolvidos e menos desenvolvidos, Por fim, o relatório alerta que se o desenvolvimento continuar abaixo da tendência anterior a 2019, “as perdas serão permanentes[2], bem como, os Objetivos do Desenvolvimento Global 2030 não serão alcançados.

 

O IDH de 2023-2024 teve por base indicadores como população, saúde, educação, emprego, riqueza nacional, segurança e perceção de bem-estar. A qualidade de desenvolvimento humano, as diferenças de género, a emancipação da mulher e a sustentabilidade ambiental e socioeconómica foram igualmente avaliadas.

É no continente Africano que a maior parte dos Países Menos Desenvolvidos se localizam, continuando a ser o continente mais fragilizado, perfazendo a grande maioria dos países que se inserem no grupo do IDH baixo (<0,550). Este continua a reunir três dos países com os resultados menos satisfatórios: República Central Africana (0,387), Sudão do Sul (0,381) e Somália (0,380). Entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Cabo Verde (0,661), Guiné Equatorial (0,650), São Tomé e Príncipe (0,613), e Angola (0,591) atingem um nível de IDH médio, enquanto Guiné-Bissau (0,483) e Moçambique (0,461) permanecem com um nível de IDH baixo.

Por outro lado, a Europa é o continente que continua a apresentar os resultados mais altos neste indicador, liderando a tabela com a Suíça (0,967), a Noruega (0,966) e a Islândia (0,959). É de notar que é o Liechtenstein que tem a esperança média de vida (84,7), bem como, o rendimento nacional bruto (RNB) (146.673 PPP $) mais elevados do continente. Enquanto é a Grécia que tem o maior número de anos de escolaridade esperados (20) é na Alemanha que a média de anos de escolaridade é maior (14,3) O país europeu com os resultados mais baixos é, porém, a Ucrânia (0,734) que, mesmo assim, insere-se na categoria do IDH elevado (0,700-0,799).

Em 2022, Portugal consolidou-se na 42ª posição, com um valor de desenvolvimento humano de 0,874, permanecendo na lista de 69 países com IDH muito elevado.

 

Quadro 1 - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (2022)

wdt_ID Rank Países IDH
1 IDH Muito Elevado
344 146 Nepal 0,601
343 146 Quénia 0,601
342 145 Gana 0,602
341 144 Myanmar 0,608
340 142 Namíbia 0,61
339 142 Essuatíni 0,61
338 141 São Tomé e Príncipe 0,613
337 140 Vanuatu 0,614
336 139 Laos 0,62
Rank Países IDH

Fonte: Human Development Report 2023 (PNUD)

 

Quando observados os vários componentes do IDH, apresenta-se-nos um retrato de um mundo bastante desigual. Em termos de esperança média de vida à nascença, contam-se 17,7 anos de diferença entre os países com IDH muito elevado (79,3) e os com IDH baixo (61,6). No que toca à média de anos de escolaridade, persiste uma distância de 7,6 anos entre países com IDH muito elevado (12,3) e IDH baixo (4,7), com a vertente dos anos de escolaridade esperados a refletir um diferencial semelhante. Ademais, os resultados no rendimento nacional bruto (RNB) per capita revelam uma desigual distribuição da riqueza a favor dos países com IDH muito elevado (44 958 PPP$): o valor continua a ser mais do dobro do obtido pelos países de IDH elevado (15 484 PPP$) e cerca de 15 vezes superior ao dos países de IDH baixo (3 186 PPP$).

A região da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) lidera no IDH, apresentando um valor médio de 0,906. Para além desta, as regiões da Europa e da Ásia central (0,802) encontram-se também na categoria de IDH muito elevado. Na categoria de IDH elevado, é a Ásia do Leste e Pacífico (0,766) que lidera, seguindo-se e pela América Latina e Caraíbas (0,763) e os Estados Árabes (0,704). Por sua vez, a Ásia do Sul (0,641) permanece no IDH médio. A África Subsariana (0,549) é a única região do mundo cuja média a coloca na categoria do IDH baixo. Deste modo, pode-se considerar que a escolarização, a emancipação da mulher, as diferenças de género e a sustentabilidade socioeconómica nos Estados Árabes, na Ásia do Sul e na África Subsariana são bastante reduzidas comparadas com a OCDE, a Europa e Ásia Central e a América Latina e Caraíbas, estando, inclusive, abaixo da média mundial (0,739).

 

Quadro 2 - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e seus componentes (2022)

wdt_ID Categorias IDH Esperança de vida à nascença (anos) Anos de escolaridade esperados Média de anos de escolaridade Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (PPP$)
1 Grupos de IDH
2 IDH muito elevado 0,902 79,3 16,6 12,3 44958
3 IDH elevado 0,764 75,2 14,5 8,6 15484
4 IDH médio 0,640 68 12,3 6,7 6444
5 IDH baixo 0,517 61,6 9,3 4,7 3186
7 Regiões
8 OCDE 0,906 80,1 16,6 12,2 46318
9 Estados Árabes 0,704 71,3 11,9 7,8 14391
10 Ásia do Leste e Pacífico 0,766 76,2 14,5 8,2 16138
11 Europa e Ásia Central 0,802 73,6 15,5 10,6 19763
12 América Latina e Caraíbas 0,763 73,7 14,8 9,0 15109
13 Ásia do Sul 0,641 68,4 11,9 6,6 6972
15 África Subsariana 0,549 60,6 10,3 6,0 3666
16 Média Mundial 0,739 72,0 13,0 8,7 17254
Categorias IDH Esperança de vida à nascença (anos) Anos de escolaridade esperados Média de anos de escolaridade Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (PPP$)

Fonte: Human Development Report 2023-2024 (PNUD)

 

Nos últimos 32 anos, o IDH português subiu 0,163 pontos. O período entre 1990 e 2000 marca o momento de maior crescimento neste indicador, o que se manifestou numa melhoria nas várias componentes. Porém, desde 2010, a evolução dos valores do IDH tem sido mais ligeira (sobretudo desde 2015), o que em parte é explicado pelo efeito da componente do rendimento nacional bruto (RNB) per capita e pela pandemia Covid-19.

Desde 1990, a esperança média de vida em Portugal subiu 7,7 anos (em 2022, situava-se nos 82,2 anos, valor máximo alguma vez alcançado), contudo, a vaga pandémica Covid-19 fez reduzir, pela primeira vez em 31 anos, a esperança média de vida num percurso evolutivo promissor até à data. Relativamente à média de anos de escolaridade em 1990, esta aumentou em 3,4 anos (em 2022, era de 9,6 anos), assim como os anos de escolaridade esperados. Este último aumentou 5,1 anos até 2021(16,9 anos), contudo, em 2022 diminui 0,1%. Por fim, o rendimento nacional bruto (RNB) per capita português subiu de 20 109 PPP$, em 1990, para 33 155 PPP$, em 2021. Apesar da pandemia Covid-19 ter reduzido um pouco o rendimento nacional bruto (RNB) per capita, Portugal conseguiu recuperar desde então, tendo valores superiores aos de 2019.

 

Quadro 3 - Evolução do IDH e suas componentes em Portugal (1990-2022)

wdt_ID Anos Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Esperança média de vida Anos de escolaridade esperados Média de anos de escolaridade Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (PPP$)
1 1990 0,711 74,5 11,8 6,2 20109
2 1995 0,76 75,4 15 6,4 22018
3 2000 0,785 76,7 15,6 6,8 25510
4 2005 0,8 78,5 15,3 7,5 26182
5 2010 0,822 79,9 16 8,1 26318
6 2015 0,842 81 16,4 9,1 26586
7 2016 0,845 81,2 16,3 9,2 26521
8 2017 0,847 81,4 16,3 9,2 27315
9 2018 0,85 81,9 16,3 9,2 27935
10 2019 0,864 82 16,5 9,3 33967
11 2020 0,863 81,1 16,9 9,6 31637
12 2021 0,866 81 16,9 9,6 33155
13 2022 0,874 82,2 16,8 9,6 35315
Anos Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Esperança média de vida Anos de escolaridade esperados Média de anos de escolaridade Produto Nacional Bruto (PNB) per capita (PPP$)

Fonte: Human Development Report 2023-2024 (PNUD)

 

Notas finais

[1] Human Development Report, 2023-2024 “Breaking The Gridlock”, página 3

[2] Human Development Report, 2023-2024 “Breaking The Gridlock”, página 4

 

Atualizado por Diana Deodato

Atualizado por Tânia Liberato

Atualizado por Maria Francisca Botelho

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