O Índice das Normas Sociais de Género (GSNI) foi introduzido pelo PNUD em 2019 com o objetivo de medir o impacto das crenças sociais nas desigualdades de género ao longo de quatro dimensões: política, educação, economia e integridade física. O seu valor varia entre 0 e 100 pontos percentuais, sendo que percentagens altas indicam maior prevalência de preconceitos de género na população.
O GSNI é construído com base nas respostas a sete questões do World Values Survey (2005-2009, 2010-2014, 2017-2022), codificadas para identificar preconceitos em sete indicadores agregados em quatro sub-índices. Os dados para o período mais recente (12 de janeiro de 2023) incluem 80 países, mas só 38 países são cobertos pelos dois últimos períodos temporais (Portugal não é incluído em nenhum dos períodos temporais).
Na verdade, existem dois índices diferentes: o primeiro mede a percentagem de indivíduos com preconceito(s), sem considerar o seu número, oferecendo uma estimativa da prevalência das normas discriminatórias num país (GSNI); o segundo mede a percentagem de indivíduos com pelo menos dois tipos de preconceitos, atentando na intensidade das normas de género no país (GSNI2).
Tendo em consideração os dados mais recentes (Quadro 1), em termos globais, apenas 11% da população não apresenta qualquer tipo de preconceito. Um pouco mais de 70% da população tem pelo menos dois preconceitos. Só em 8 países é que menos de metade da população tem pelo menos um preconceito: Alemanha (38%), Andorra (43%), Suécia (28%), Países Baixos (31%), Canadá (41%), Austrália (35%), Reino Unido (30%) e Nova Zelândia (27%). Por seu turno, praticamente toda a população de 13 países tem pelo menos um preconceito: Paquistão (99,9%), Nigéria (99,6%), Qatar (99,8%), Indonésia (99,7%), Índia (99,2%), Malásia (99,5%), Ruanda (99,2%), Bangladesh (99,4%), Egipto (99,5%), Filipinas (99,5%), Myanmar (99,4%), Paquistão (99,9%), Tadjiquistão (99,9%) e Líbia (99,7%).
Quadro 1 - Índice de Normas Sociais de Género (período mais recente) (%)
wdt_ID | Países | População com preconceitos (GSNI) | População com pelo menos dois preconceitos (GSNI2) | População sem preconceitos |
---|---|---|---|---|
1 | Média global | 88,7 | 70,7 | 11,3 |
2 | África do Sul | 97,4 | 83,1 | 2,6 |
3 | Alemanha | 37,4 | 13,3 | 62,6 |
4 | Andorra | 42,5 | 15,5 | 57,5 |
5 | Argélia | 98,4 | 88,8 | 1,6 |
6 | Argentina | 71,9 | 35,0 | 28,1 |
7 | Arménia | 91,9 | 72,8 | 8,1 |
8 | Austrália | 34,8 | 15,4 | 65,2 |
9 | Azerbeijão | 98,7 | 92,4 | 1,3 |
10 | Bangladesh | 99,4 | 91,7 | 0,6 |
Países | População com preconceitos (GSNI) | População com pelo menos dois preconceitos (GSNI2) | População sem preconceitos |
Fonte: Gender Social Norms Index (UNDP), 2023
Na UE27 (Figura 1), depois da Suécia (28%) e dos Países Baixos (31%), é na Espanha (51%) e Finlândia (52%) que a prevalência de preconceitos é menor. Já a Roménia (86%) e a Eslováquia (87%) são os países onde os preconceitos estão mais difundidos.
Analisando a distribuição dos valores pelas quatro dimensões, desagregados por género (Figura 2), concluímos que, em média, a percentagem de homens sem preconceitos tende a ser menor do a das mulheres (10% e 13%, respetivamente). A intensidade dos preconceitos (GSNI2) é maior entre os homens (75% dos homens e 67% das mulheres) Esta distinção é válida para todas as dimensões, embora seja menos acentuada na dimensão da integridade física (M: 76%, F: 73%) e mais expressiva na dimensão económica (M: 65%, F: 55%).
Em geral, é na educação que os preconceitos são menos prevalecentes: apenas 28% da população considera que a universidade é mais importante para os homens do que para as mulheres. Mais de metade da população concorda com esta afirmação no Myanmar (53%) Tadjiquistão (53%), Quirguistão (52%) e Paquistão (60%), enquanto a população de Andorra (2,6%), Suécia (2,6%), Reino Unido (2,7%) Nova Zelândia (2,8%) e Austrália (2,6%) apresenta menos preconceitos sobre a educação feminina (ver Anexo 1 no ficheiro Excel).
Pelo contrário, os preconceitos são mais acentuados quanto à integridade física das mulheres (75%), sobretudo no Ruanda (98%), Zimbabwe (96%) e Tadjiquistão (98%), mas menos em Reino Unido (8%), Suécia (14%) e Nova Zelândia (14%) (Anexo 1, ficheiro Excel).
Na dimensão política, em média, 61% da população apresenta algum tipo de preconceito baseado no género. É nos países de maioria muçulmana que estes preconceitos estão mais difundidos, nomeadamente na Malásia (92%), Qatar (92%), Kuwait (91%) e Palestina (91%). Inversamente, é na Alemanha (13%), Nova Zelândia (15%), Suécia (16%) e Países Baixos (21%) que a percentagem de população enviesada é menor.
Finalmente, cerca de 60% da população, em média, tem preconceitos de género na dimensão económica. Excetuando o Egipto (94%), estes são mais generalizados em países asiáticos, nomeadamente Azerbaijão (91%), Paquistão (92%), Myanmar (89%) e Iémen (89%). Além da Suécia (9%) e Países Baixos (8%), é nos países anglófonos que se registam os valores mais baixos: Estados Unidos (14%), Nova Zelândia (9%) Reino Unido (10%) e Austrália (13%).
Podemos ainda analisar a tendência de evolução dos preconceitos de género em 38 países, para o período compreendido entre 2014 e 2022 (Quadro 2).
Quadro 2 - Evolução do Índice das Normas Sociais de Género em 38 países (2010-2014 & 2017-2022) (%)
wdt_ID | Países | 2010-2014 | 2017-2022 |
---|---|---|---|
1 | Média global | 87 | 87 |
2 | Alemanha | 58 | 37 |
3 | Argentina | 71 | 72 |
4 | Armênia | 95 | 92 |
5 | Austrália | 44 | 35 |
6 | Brasil | 90 | 84 |
7 | Cazaquistão | 96 | 93 |
8 | Chile | 74 | 80 |
9 | China | 93 | 92 |
10 | Chipre | 82 | 80 |
Países | 2010-2014 | 2017-2022 |
Fonte: Gender Social Norms Index (UNDP), 2023
Assim, constatamos que a população com preconceitos aumentou em 10 países (Figura 3), com a maior subida registada no Chile (+7%) e na Coreia do Sul (+5%). Dos restantes países onde os preconceitos diminuíram, a maior evolução encontra-se na Nova Zelândia (-35%) e na Alemanha (-35%).
Observando a evolução por dimensão (ver Anexo 2 no ficheiro Excel), constatamos que nenhuma dimensão teve um aumento percentual na média global. Apesar disso, 13 países na dimensão da educação e 14 países na dimensão da economia aumentaram a sua percentagem de população enviesada. No total, apenas 4 países em 38 aumentaram em todas as dimensões e 6 aumentaram em 3 ou mais dimensões. A maior parte dos países (28) diminuiu a percentagem de preconceitos em todas as dimensões (13 países) ou em 2 dimensões ou mais (15 países).
Referências
UNDP (2023). 2023 Gender Social Norms Index (GSNI) – Breaking down gender biases: Shifting social norms towards gender equality. United Nations Development Programme: New York. Disponível em: https://hdr.undp.org/content/2023-gender-social-norms-index-gsni#/indicies/GSNI
Atualizado por Diana Deodato
Atualizado por Francisca Martins Reina