O Índice das Normas Sociais de Género (GSNI) foi introduzido pelo PNUD em 2019 com o objetivo de medir o impacto das crenças sociais nas desigualdades de género ao longo de quatro dimensões: política, educação, economia e integridade física. O seu valor varia entre 0 e 100 pontos percentuais, sendo que percentagens altas indicam maior prevalência de preconceitos de género na população.

 

O GSNI é construído com base nas respostas a sete questões do World Values Survey (2005-2009, 2010-2014), codificadas para identificar preconceitos em sete indicadores agregados em quatro sub-índices. Os dados para o período mais recente incluem 75 países, mas só 31 países são cobertos pelos dois períodos temporais (em ambos os casos, Portugal não é incluído).

Na verdade, existem dois índices diferentes: o primeiro mede a percentagem de indivíduos com preconceito(s), sem considerar o seu número, oferecendo uma estimativa da prevalência das normas discriminatórias num país (GSNI); o segundo mede a percentagem de indivíduos com pelo menos dois tipos de preconceitos, atentando na intensidade das normas de género no país (GSNI2).

Tendo em consideração os dados mais recentes (Quadro 1), em termos globais, apenas 12% da população não apresenta qualquer tipo de preconceito. Quase 70% da população tem pelo menos dois preconceitos. Só em 6 países é que menos de metade da população tem preconceitos: Andorra (27%), Suécia (30%), Países Baixos (40%), Noruega (41%), Austrália, e Nova Zelândia (46%). Por seu turno, praticamente toda a população de 9 países (5 dos quais no continente africano) tem preconceitos: Paquistão (99.8%), Nigéria, Qatar (99.7%), Zimbabwe (99.5%), Jordânia (99.3%), Ruanda (99.2%), Azerbaijão, Gana, e Líbia (99.1%).

 

Quadro 1 - Índice de Normas Sociais de Género (período mais recente) (%)

wdt_ID Países População com preconceitos (GSNI) População com pelo menos dois preconceitos (GSNI2) População sem preconceitos
1 Média global 88,4 67,8 11,7
2 África do Sul 96,3 80,9 3,7
3 Alemanha 62,6 33,1 37,4
4 Andorra 27,0 7,4 73,0
5 Argélia 97,8 87,0 2,2
6 Argentina 75,4 42,5 24,6
7 Arménia 94,1 81,3 5,9
8 Austrália 46,2 23,0 53,8
9 Azerbeijão 99,1 93,8 0,9
10 Bielorrússia 90,4 71,7 9,6
Países População com preconceitos (GSNI) População com pelo menos dois preconceitos (GSNI2) População sem preconceitos

Fonte: Gender Social Norms Index (UNDP), 2020

 

Na UE27 (Figura 1), depois da Suécia (30%) e dos Países Baixos (40%), é na Espanha e Finlândia (51%) que a prevalência de preconceitos é menor. Já a Roménia (86%) e o Chipre (81%) são os países onde os preconceitos estão mais difundidos.

 

 

Analisando a distribuição dos valores pelas quatro dimensões, desagregados por género (Figura 2), concluímos que, em média, a percentagem de homens sem preconceitos tende a ser menor do a das mulheres (9% e 14%, respetivamente), e a intensidade dos preconceitos é também maior entre os homens (73%  dos homens e 62% das mulheres revelam pelo menos dois preconceitos). Esta distinção é válida para todas as dimensões, embora seja menos acentuada na dimensão da integridade física (M: 74%, F: 70%) e mais expressiva na dimensão económica (M: 63%, F: 50%).

 

 

Em geral, é na educação que os preconceitos são menos prevalecentes: apenas 26% da população considera que a universidade é mais importante para os homens do que para as mulheres. Mais de metade da população concorda com esta afirmação no Haiti (60%), Irão (55%) e Paquistão (51%), enquanto a população de Andorra (2%), Suécia (3%), Noruega e Austrália (4%) apresenta menos preconceitos sobre a educação feminina (ver Anexo 1 no ficheiro Excel).

Pelo contrário, os preconceitos são mais acentuados quanto à integridade física das mulheres (72%), sobretudo no Ruanda (98%), Zimbabwe (96%) e Malásia (94%), mas menos em Andorra (12%), Suécia (12%), Noruega (17%) e Austrália (21%).

Na dimensão política, 76% da população apresenta algum tipo de preconceito baseado no género. É nos países árabes que estes preconceitos estão mais difundidos, nomeadamente no Qatar (92%), Jordânia (91%), Palestina (89%), Iraque e Kuwait (88%). Inversamente, além de Andorra (14%), Suécia (16%) e Noruega (20%), são menos expressivos na Suíça e nos Países Baixos (21%).

Finalmente, cerca de 57% da população tem preconceitos de género na dimensão económica. Excetuando o Mali (89%), estes são mais generalizados em países asiáticos, nomeadamente Azerbaijão (92%), Paquistão (91%), Jordânia e Irão (89%). Além de Andorra, Suécia (9%) e Países Baixos (14%), é nos países anglófonos que se registam os valores mais baixos: Estados Unidos (15%), Nova Zelândia (17%) e Austrália (18%).

Podemos ainda analisar a tendência de evolução dos preconceitos de género em 31 países, para o período compreendido entre 2005 e 2014 (Quadro 2).

 

Quadro 2 - Evolução do Índice das Normas Sociais de Género em 31 países (2005-2009 e 2010-2014) (%)

wdt_ID Países 2005-2009 2010-2014
1 Média global 86 87
2 África do Sul 93 96
3 Alemanha 59 63
4 Argentina 77 75
5 Austrália 52 46
6 Brasil 88 90
7 Chile 90 74
8 China 91 88
9 Chipre 80 81
10 Coreia do Sul 87 87
Países 2005-2009 2010-2014

Fonte: Gender Social Norms Index (UNDP), 2020

 

Assim, constatamos que a população com preconceitos aumentou em 17 países (Figura 3), com a maior subida registada na Suécia (+11%) e na Índia (+7%). Dos restantes países onde os preconceitos diminuíram, a maior evolução encontra-se no Chile (-15%) e nos Países Baixos (-13%).

 

 

Observando a evolução por dimensão (ver Anexo 2 no ficheiro Excel), constatamos que os preconceitos aumentaram ligeiramente na dimensão política (+2%), com a maior subida na África do Sul (+14%) e a maior descida no Chile (-16%); mas também na integridade física (+1%), com o maior aumento na Geórgia (+18%) e decréscimo no Chile (-14%). Por seu turno, os preconceitos na dimensão económica mantiveram-se estáveis (+0,4%), tendo aumentado mais no Ruanda (+11%) e diminuído no Chile (-19%), a par dos preconceitos na dimensão educacional (-0,1%), que aumentaram na África do Sul (+19%) e decresceram na Ucrânia (-14%).

 

Referências

UNDP (2020). Gender Social Norms Index (GSNI). Human Development Reports. Disponível em: http://hdr.undp.org/en/GSNI

 

Atualizado por Francisca Martins Reina

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