O número de novos inscritos no ensino superior português quase duplicou desde 1995/96, passando de 81.083 alunos para 155.082 em 2022/23. O ensino privado universitário, que absorvia no início do período analisado 29,1% dos novos inscritos, diminui expressivamente, representando apenas 13% em 2022/23. Pelo contrário, o ensino público politécnico recebe atualmente 31,5% de todos os novos estudantes do ensino superior, suplantado apenas pelo ensino público universitário, com 49,1% do total de novas matrículas. As novas inscrições continuam a ser maioritariamente em graus de licenciatura e equivalentes (54,7%), ao mesmo tempo que o acesso aos mestrados e estudos pós-graduados aumenta progressivamente (33,9%). Portugal tem uma proporção inferior, face à média da UE27, da sua população entre os 20-24 anos inscrita no ensino superior (34,5% face a 36,1%), a mais baixa entre os países da Europa do Sul. Portugal acompanha a tendência europeia de feminização do acesso ao ensino superior, com 56,2% das matrículas sendo de mulheres. Portugal iguala a média europeia no que respeita à proporção de alunos de origem imigrante no ensino superior (18,9%), pertencendo a maior “fatia” destes à 2.ª geração com origens mistas (10,9%). As novas inscrições no ensino superior português continuam a demonstrar um viés de género, com as áreas das Engenharias e das TIC a serem preferencialmente escolhidas pelos alunos e as áreas da Saúde e Proteção Social, Ciências Sociais e Educação a serem desproporcionalmente escolhidas pelas alunas.
A figura 1 mostra a evolução dos alunos inscritos no 1.º ano, pela 1.ª vez, em cada subsistema do ensino superior português, ao longo das últimas três décadas. Globalmente, o número de novos inscritos no ensino superior quase duplicou desde 1995/96, passando de 81.083 alunos para 155.082 em 2022/23 (ver ficheiro Excel no fim da página). Esta evolução não foi, no entanto, constante ao longo do período em análise, registando-se algumas quebras na tendência geral de crescimento. As duas mais notórias ocorreram entre 2002/03 e 2005/06, anos durante os quais se perderam 11.726 novos alunos e entre 2010/11 e 2014/15, período durante o qual se registou uma perda de cerca de 27.253 novos estudantes, o que representa cerca de dois terços do número de alunos que entrou pela primeira vez no ensino superior desde 2005/06 (altura durante a qual ganhou 48.788 novos alunos).
O início do período analisado pauta-se por uma distribuição relativamente equilibrada dos novos alunos entre os vários subsistemas de ensino superior, com predominância do ensino público universitário (36,2%), seguido do privado universitário (29,1%) e do público politécnico (22,3%); o privado politécnico concentrava o menor número de novos inscritos no ensino superior português, posição que se manterá ao longo das próximas décadas (12,4%). Em 2022/23, o ensino público universitário recebe quase metade dos novos inscritos no ensino superior (49,1%), ao passo que o ensino público politécnico parece ter suplantado o ensino privado universitário nas escolhas dos novos estudantes (respetivamente 31,5% e 13%) e o ensino privado politécnico “encolhe” para metade da dimensão que tinha no início do período (6,4%).
De facto, vemos que o peso do ensino privado tem vindo a diminuir nas novas entradas para o ensino superior, desde 1995/96, quando representava cerca de 42% dos inscritos, até 2013/14, quando atingiu mínimos históricos, concentrando apenas 15,8% dos novos alunos do ensino superior. A partir de então, parece crescer timidamente, agregando em 2022/23 19,5% das novas matrículas no ensino superior, sobretudo devido ao crescimento do ensino privado politécnico, que representa no ano mais recente 6,4% dos novos inscritos no ensino superior, face à posição ainda maioritária do privado universitário.
O ensino público politécnico é o subsistema que apresenta o crescimento mais constante, ainda que progressivo, entre 2006/07 e 2016/17 (passando de 26,6% para 32,4% entre os novos inscritos no ensino superior).
Olhando para a distribuição geográfica dos novos inscritos no ensino superior, a A.M. Lisboa absorve a fatia maioritária destes alunos desde 1995/96, tendo no entanto diminuído ligeiramente a sua vantagem, passando de 41,4% para 37,7% em 2022/23 (figura 2). Tal deve-se ao ligeiro crescimento das novas inscrições em instituições de ensino superior no Centro (de 18,5% para 20,7%) e no Norte (31,6% para 32,8%). Segue-se o Alentejo, com cerca de 4,5% das novas inscrições, o Algarve (2,5%), os Açores, cuja fatia de novos inscritos passa de 0,8% para 0,7% entre 1995/96 e 2022/23 e a Madeira, que aumenta de 0,6% para 0,9%, suplantando ligeiramente os Açores.
A figura 3 ilustra a evolução da prevalência dos diferentes ciclos de estudos nas novas inscrições no ensino superior português. Se em 1995/96 as licenciaturas e bacharelatos representavam 85,5% das novas inscrições, este valor passa a 54,7% em 2022/23. Tal diminuição deve-se, sobretudo, à expansão expressiva do acesso a mestrados e outros estudos pós-graduados, que passam de 14,5% para 33,9%; esta tendência solidifica-se em 2007/08, ano da entrada em vigor do processo de Bolonha, quando as novas entradas passam a representar 30,9%, face a apenas 21,1% no ano letivo anterior. Por outro lado, a partir de 2015/16 os cursos técnicos superiores profissionais começaram, também, a absorver uma parte importante das novas matrículas no ensino superior, representando em 2022/23 7,6% das novas entradas – quase o dobro do peso dos doutoramentos (3,9%).
No que toca à proporção de indivíduos entre os 20 e os 24 anos inscritos em cursos do ensino superior / terciário, Portugal tem vindo a aproximar-se da média da UE27, passando de 29,2 para 34,5% entre 2015 e 2021 (figura 4), reduzindo a distância de 4,4 p.p. para 1,6 p.p.. Na verdade, entre os países que constituem o grupo PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), Portugal é o único que manteve a tendência de crescimento durante o período analisado, acompanhando o resto da Europa. Apesar disso, Portugal encontra-se na “cauda” deste conjunto de países, sendo acompanhado pela Itália ao estar abaixo da média europeia em 2021 (35,4%), seguindo-se a Irlanda (37,5%), Espanha (40,5%) e Grécia (46,7%).
Observando, agora, a taxa de feminização das matrículas no ensino superior, vemos que as mulheres representam, em média, na Europa, 55,9% das matrículas em 2018-2021 (figura 5). De facto, mesmo entre os países com mais baixas taxas de feminização do ensino superior, as mulheres representam no mínimo 48,4% dos inscritos, atualmente (na Turquia). A Islândia é o país com mais elevadas taxas de feminização, com 64% das matrículas, seguido da Noruega (60,3%) e da Suécia (59,9%). Portugal encontra-se numa posição intermédia, face ao resto dos países, estando ligeiramente acima da média europeia com 56,2% de matrículas pertencentes a mulheres.
Regista-se elevada variação entre países na evolução da proporção de matrículas femininas no ensino superior. Enquanto na maioria dos países se verificou um aumento da taxa de feminização entre 2015 e 2018-21 – com particular ênfase para a Turquia, Malta e Portugal, com aumentos respetivos de 3,5 p.p., 4,5 p.p. e 3 p.p. -, noutros a proporção de mulheres entre os matriculados no ensino superior diminuiu. Esta queda registou-se com particular intensidade na Geórgia, na Lituânia e na Polónia (respetivamente, com menos 2,4 p.p., 1,6 p.p. e 1,5 p.p.), mas também ocorreu nos Países Baixos, na Áustria, na Chéquia, na Eslovénia, na Estónia e na Noruega.
Analisando a diversidade nacional dos alunos inscritos no ensino superior, a figura 6 mostra que as matrículas no ensino superior dos países europeus são, em média, constituídas por 18,9% de alunos com origem migrante; destas, a maior parte pertence à 1.ª geração (i.e., nascidos no estrangeiro), com 10,1 p.p., seguido da 2.ª geração de origens mistas (i.e., aluno e um dos progenitores nascidos no país de acolhimento), com 6,1% e, por fim, da 2.ª geração de origens estrangeiras (i.e., aluno nascido no país de acolhimento e ambos os pais nascidos em países estrangeiros), com 2,7%. A Suíça, a Suécia e a Irlanda são os países com maior proporção de inscritos no ensino superior de origem migrante, com respetivamente 45,8, 38,3 e 33,3%. Pelo contrário, a Polónia, a Roménia e a Turquia têm a menor proporção de alunos migrantes no ensino superior, com respetivamente 2,5, 4 e 4,7%.
Portugal encontra-se dentro da média europeia, mas diverge desta na composição geracional dos seus alunos migrantes no ensino superior. Em Portugal, a maior proporção de migrantes no ensino superior pode ser considerada de 2.ª geração com origens mistas (10,9%, mais 4,8 p.p. que no resto da Europa), seguida da 1ª geração (6,1%, menos 4 p.p. face à média europeia) e, por fim, da 2.ª geração com origens estrangeiras (1,9%, menos 0,8 p.p. que a média europeia). Apenas em mais cinco países o grupo mais número de alunos com origem migrante no ensino superior pertence à 2.ª geração com origens mistas: a Estónia (8,6%), a Croácia (13,1%), os Países Baixos (6,2%), a Eslovénia (6,8%) e a Lituânia (5,2%).
As figuras 7 e 8 permitem observar a distribuição sexual pelas diversas áreas de ensino e formação no ensino superior português, respetivamente, em 2016/17 e em 2021/22. É visível uma elevada segmentação de género em grande parte das áreas de estudo escolhidas pelos novos alunos do ensino superior. Em 2021/22, 34,5% dos homens estavam inscritos em cursos das áreas da Engenharia, Indústrias transformadoras e Construção, face a apenas 12,8% das mulheres, o que representa, respetivamente, um aumento de 7,7 p.p. e 2,9 p.p. face a 2016/17. Também nos cursos de Tecnologias da Informação e Comunicação se regista uma forte preferência masculina, com 5,4% dos homens a escolherem esta área face a apenas 1,2% das mulheres (aumentos respetivos de 0,2 p.p. e 0,4 p.p.). Os cursos de Serviços são a escolha de 7,9% dos homens, face a 4,2% das mulheres (diminuição respetiva de 0,1 p.p. e de 0,8 p.p.).
Outros cursos têm, pelo contrário, uma forte preferência feminina. A Saúde e Proteção Social, por exemplo, é escolhida por 17,7% das novas alunas do ensino superior, face a apenas 5,8% dos novos alunos em 2021/22 (diminuição respetiva de 1,1 p.p. e de 0,8 p.p.). Algo de semelhante se passa com a Educação, escolhida por 5,2% das mulheres face a 2,1% dos homens (diminuição de 0,9 p.p. entre as mulheres e estagnação entre os homens), bem como com a área das Ciências Sociais, Jornalismo e Informação, escolhida por 15,6% das mulheres e apenas 8,2% dos homens (aumento de 1,9 p.p. entre as mulheres e diminuição de 0,8 p.p. entre os homens). A preferência das mulheres manifesta-se também na área das Artes e Humanidades, escolhida por 11,1% das novas alunas face a 8% dos novos alunos (diminuição respetiva de 1,6 p.p. e de 2,1 p.p.) e, cada vez mais, na área das Ciências Empresariais, Administração e Direito, com 24,2% das mulheres a escolherem estes cursos face a apenas 20,4% dos homens (diminuição respetiva de 0,5 p.p. e de 3,1 p.p.).
Duas áreas demonstram elevados níveis de paridade de género, no que toca à preferência dos novos inscritos. A Agricultura, Silvicultura, Pescas e Ciências veterinárias, escolhida por 1,7% de homens e 1,9% de mulheres, em 2021/22 (descida respetiva de 0,2 p.p. e 0,1 p.p.), bem como a área de Ciências naturais, Matemática e Estatística, escolhida por 6,1% das novas alunas e 6% dos novos alunos (estagnação entre as mulheres e diminuição de 0,1 p.p. entre os homens).
Elaborado por Adriana Albuquerque.